A única coisa que importa como elemento essencial à vida é significado de ser
6 de janeiro de 2012
Postado por Unknown
ARTIFICIALIDADES
TRANSFORMADAS EM NATUREZA HUMANA!
Jesus disse que pouco é necessário, que mesmo a uma
só coisa a vida pode ser reduzida em sua simplicidade sem que nada dela
seja essencialmente supresso.
Tal declaração, entretanto, nos soa apenas poética.
Sim, coisa de Deus ou de maluco!
Isto porque para nós há um mínimo necessário e sem cuja presença [de tais coisas] em
nossas existências tudo parece estar faltando. A cada dia falta mais e se
precisa de mais...
Todavia, nem sempre foi assim, e, ainda hoje,
para muitos povos, não é assim. Nós, no entanto, mesmo ao sabermos e vermos
acerca de tais pessoas, povos ou comunidades, para não nos perguntarmos sobre o
real significado do que seja a verdadeira necessidade do existir e do ter na
existência, sentimos pena de tais grupos ou indivíduos, e, como ressignificação
da nossa humanidade, decidimos que eles precisariam ter tudo o que temos para
que fossem pessoas felizes.
Naturalmente, o homem precisa comer, precisa beber,
precisa ter algo sobre a cabeça, precisa vestir algo, e, sobretudo, precisa
interagir!...
Assim existiu a humanidade por milênios. Desse
modo chegamos todos nós até aqui... Isto porque o conceito de pobreza vinha do quase
nada ter, ou do risco diário da fome.
Já a miséria era não ter acesso a nada mesmo. E, quando
digo “nada” [...] refiro-me apenas às coisas acima ditas como essenciais às
milhares de gerações que nos precederam na história humana.
Sim, pouco é necessário [...]; e, para Jesus,
no fim de tudo, apenas uma só coisa não
poderia faltar!
O pouco
necessário já vimos o que era pelo exemplo das gerações que nos precederam
no tempo. Já esta “uma só coisa” a que Jesus fez referencia tem a ver com “a
Palavra que sai da boca de Deus”; a qual não nos impede de morrer de fome e de
sede; não nos protege de intempéries, não nos abriga do frio, não nos provê
amizades, não nos impede o morrer físico, mas nos garante significado mesmo
morrendo...
Assim Jesus nos ensina que no fim de tudo
[...] a única coisa que importa como elemento essencial à vida é significado
de ser; o qual, para o espírito, não advém de nada que se possa ter;
seja pouco, seja muito!
É desse significado essencial que alguém
existe para Deus na vida; e o que disso passar já se trata daquilo que se
precisa de modo fundamental, mas não de modo essencial.
Todavia, tão estranho tornou-se tal conceito
que a maioria dos que me leem agora, neste instante, julgam-me como sendo um
irrealista antiquado e até mesmo um hipócrita. Afinal, que dizer dos nossos
sapatos e sapatos, de nossas muitas calças e camisas, de nossa obsessão pela
casa própria, da nossa ambição justificada e abençoada por carros, por luz
elétrica, por água encanada, por aparelhos diversos em toda a casa, por
computadores, por celulares, por televisão, por telecomunicações, pela
Internet, e por milhões de outros aparatos sem os quais não sabemos mais viver?
E mais —: por cuja falta, ainda que por uma semana, entraríamos em estado de
guerra urbana e vandalismo incontrolável?
No principio
havia um jardim... E foi do desejo de comer mais do que havia no jardim,
sobretudo do desejo de comer o que tinha a promessa de um significado
imponderável, o qual nos faria deuses como Deus, que nasceram todas as nossas
crescentes necessidades, tanto as existenciais como as materiais.
Daí tudo decorre...
Por exemplo, o culto de Caim já carregava a
gratidão pela tecnologia que lhe permitia produzir em escala superior ao que o
jardim produzia de si mesmo. Sim, o culto de Caim trazia em si o germe das
necessidades criadas pelo homem na expressão de uma forma de gratidão pela
existência de coisas que já não eram totalmente naturais. E se diz que foi da
geração de Caim que a tecnologia surgiu com seu valor inafastável para os
humanos.
Daí em diante houve os surtos dos valores
agregados à existência, sendo que na Antiguidade Bíblica a Torre de Babel
tornou-se o arquétipo maior de tal necessidade artificial tornada necessidade
natural dos humanos.
Para nós o natural passou a ser tudo o que se
pode criar, inventar, realizar, concretizar; e isto em todas as perspectivas da
existência!
É desse
modelo espiritual, psicológico e existencial que ficou estabelecido para a
humanidade que tudo o que não seja natural, uma vez criado, passa a ser uma
realidade natural, por mais artificial que seja!
Jesus não radicalizou contra tal constatação;
afinal, no mandato cultural que
existia no mandamento divino dado ao homem no Éden, havia o lugar para o crescimento civilizatório; embora não
houvesse nenhuma indução ao surto civilizatório; e a destruição de Babel bem
expressa tal diferença.
Sobre Jesus se pode dizer que Ele andava
vestido, mas não carregava um guarda-roupa; servia-se eventualmente de um
jumento, mas andava a maior parte do tempo com as próprias pernas; dispunha de
um barquinho, mas não tinha uma frota; não fazia aquisições, mas aceitava
presentes.
O mesmo se pode dizer dos Seus apóstolos,
embora houvesse entre os discípulos pessoas com muitas posses, todas elas, entretanto,
dia a dia postas a serviço do Significado
de Ser, conforme ensinado por Jesus.
[...]
Meu celular tocou... Era um amigo doente...
Vai operar um câncer. Parei para atendê-lo!
[...]
Aqui estou eu, escrevendo sobre isto num
Laptop, com um I-Phone na mesa, com um relógio no pulso, com tênis nos pés, e
tomando um café feito em uma máquina. Sim, digo isto, e, logo depois, postarei
na Rede de Computadores, a Internet, a fim de que milhões leiam... Que
hipocrisia?!
Nem tanto! Afinal, sei viver sem nenhuma
dessas coisas e não as tenho como significados de nada; e a ausência delas não
me tira pedaços; e seu fim não me acaba!...
Foi Paulo
quem nos equacionou a existencialidade de tais usos, quando disse que os que se
utilizam deste mundo sejam como aqueles que dele não se utilizam; do contrário,
tornamos artificialidades em extensões naturais da vida; o que se torna
desastroso!
O fato é que existindo, mais cedo ou mais
tarde, todos nós, em podendo, passamos a nos utilizar “das coisas”. O problema,
todavia, é que logo, logo as coisas passam a ser/nós para nós; e todo aquele
que não as tenha sente-se como se não tivesse significado na vida; e isto é
Idolatria. E toda idolatria é desumanização!
Agora mesmo fiquei sete anos sem celular. Vivi
muito bem sem ele. E voltei a usá-lo apenas em razão de falar melhor com minha neta
que mora no Rio, e, também, a fim de gastar menos dinheiro em certas
comunicações com os que me ajudam no dia a dia. Também decidi ficar dois anos
sem escrever no site. E fiquei. Continuo sem abrir e-mails. Não sei ainda se
voltarei a abri-los. E acho saudável quando ficamos por um tempo sem energia
elétrica, pois, são bons tais desconfortos. Melhor é ainda quando tenho a
chance de passar uns dias no mato, sem nada, apenas com o mínimo necessário,
pois, de muitos modos, sinto-me mais humano, mais completo.
Nada ideológico e nada radical, mas apenas um
exercício de liberdade e de ressignificação existencial. O mesmo se dá com tudo
o mais... Raramente compro qualquer coisa para mim. Ganho presentes e os uso.
Se não os ganho também não sinto falta. Não tenho nenhuma vontade especial de
ter nada para mim. E, sinceramente, muito me admira quando vejo pessoas
lambendo as aquisições das outras como se fossem cabeça, tronco e membros que
nelas faltassem e lhes tivessem sido implantados... E mais: me perplexifica a
cara de conquista de quem exibe um equipamento novo, como se aquilo tivesse
elevado a pessoa a algum nível, quase espiritual, e, por vezes, espiritual
mesmo.
É o tal do “ser alguém” que a Serpente nos
“vendeu” faz tempo, e que hoje tem as formas que tem — indo de graduações
acadêmicas ao dinheiro e ao status; e, agora, a esta infindável Babel de
consumo de inteligência artificial. Logo chegará a Era dos Implantes de Chips,
e, então, não ter um chip implantado será equivalente a se ser um ente
amputado.
O fato é simples:
TODA CRIAÇÃO
ARTIFICIAL DOS HUMANOS GANHA EM INSTANTES O STATUS DE REALIDADE NATURAL SEM A
QUAL A HUMANIDADE “ESCLARECIDA” DIZ JÁ NÃO SABER VIVER SEM TAL ADIÇÃO!
Assim crescem as galhadas da Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal sobre as nossas cabeças, e poucos são os que se
dão conta disto!
Na realidade não creio que haja reversão para
tal processo. O máximo que se pode fazer é buscar a vida de um John Stott, que
decidiu viver com o mínimo de tais coisas; ou, não se podendo ir tão longe
assim, pelo menos mantermo-nos atentos quanto à incorporação plástica de tais
aparatos em nós, usando-os com moderação e suspeitando de seu significado
excessivo como quem suspeita acerca de toda possibilidade de tentação.
O que se deve ter em mente é que a vida não
são tais coisas; e mais: que ainda hoje milhões de humanos vivem felizes sem
nenhuma dessas coisas; e ainda: que a grande desgraça é quando consideramos
tais artificialidades como valores agregados e até incorporados à nossa vida, e
não como meras possibilidades de uma certa forma de existência, não de vida.
Por último, deve-se crer e saber que é uma
tendência diabólica imposta sobre nós [essa] que nos faz sentir e pensar que
tais coisas sejam essenciais à vida; ou mesmo que sem tais coisas sejamos menos
humanos do que humanos possamos ser sendo simplesmente nus na existência; porém
dotados de todos os recursos do amor e da bondade que se alimenta da Palavra
mais essencial do que até mesmo pão e água.
Se o apostolo João me lesse hoje, diria: “Filhinho, fugi dos ídolos!”
Nele, como usuário das parafernálias que não
permito que me usem,
Caio
6 de Janeiro de 2012
Copacabana
RJ
Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 6 de janeiro de 2012 às 14:48 e está arquivado em caio fábio,mensagens. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
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