De onde procede a ambivalência humana?
7 de janeiro de 2012
Postado por Unknown
AMBIVALÊNCIA É O OUTRO NOME DA
ALMA!
De onde procede a ambivalência humana?
Por ambivalência entenda-se essa
capacidade contraditória de amar o que se odeia e odiar o que se ama; ou ainda:
de desejar ardentemente aquilo que se teme, enquanto nada nos seduz mais do
esse próprio medo!...
Sim, de onde procede a ambivalência
humana?
O relato mais antigo de tal nascedouro
nos vem do livro de Genesis. É de lá que nos vem a primeira narrativa da
ambivalência dos seres humanos. Isto porque Deus dissera: “Podem comer de
tudo... Menos da árvore que está no meio do jardim; pois, se dela comerem [...]
vocês morrerão!” Depois vem a Astucia, a Serpente, e mostra a árvore da morte
como algo que escondia o segredo de Deus.
“Que nada! É que Deus sabe que se vocês comerem se tornarão como Ele,
conhecedores de tudo, tanto do bem quanto do mal.”
Assim, ambivalência é desejo pelo bem
e pelo mal, simultaneamente. É a mesma árvore. É a mesma coisa. E os opostos
estão ali presente, apavorando tanto quanto seduzindo.
Ora, esse foi o fruto que comemos. E o
seu conteúdo é pura ambivalência. Daí sermos seduzidos pelo que nos faz mal em
razão de que nele possa existir algum bem.
E mais: mesmo que se diga que algo
mata, somos capazes de exercermos uma seletividade que separa a morte da
própria morte [...] pelo usufruto daquela coisa que nos vai matando enquanto
ela não nos mate de vez.
Daí decorrem todos os nossos prazeres
mortais e todas as nossas escolhas de morte lenta!
Afinal, existe uma doçura em tudo o
que envenena; existe um segredo em tudo o que é proibido; existe uma existência
desconhecida em tudo o que não se pode; existe alguma forma de existência em
tudo o que conduz à morte!
Na realidade esse mecanismo
psicológico está presente em tudo o que fazemos — dos nossos hábitos alimentares
danosos aos nossos vícios; dos nossos prazeres pecaminosos aos nossos pânicos
de suas consequências; de nosso ardente desejo de transgredir ao pavor das
implicações.
Assim é que a morte é a maior fobia
humana, na mesma medida que desafiá-la é nosso maior excitamento!
Sabemos que vamos morrer, mas queremos
morrer sorvendo a morte, ainda que sob o disfarce da existência.
Existência
é o nome da capa com a qual cobrimos a morte a fim de não chama-la pelo nome!
Existir é o nosso modo de andar para a
morte sem assumirmos que é na direção dela que estamos caminhando!
Assim se diz de alguém que comeu todos
os frutos da morte e que veio a morrer de todos os males possíveis:
“Viveu pouco, mas viveu intensamente!”
Ainda: “Foi trágica a sua existência,
porém, inegavelmente destemida e intensa!”
Ou como diria o poeta de bar:
“Eu bebo sim; tem gente que não bebe e
tá morrendo!”
É por esta razão que nos benzemos
antes de pular para o abismo, ou antes de entrarmos num ringue de lutas.
É também por esta razão que todo
transgressor é supersticioso, pois, não podendo orar, apela para a sorte como
divindade!
A mais denunciadora de todas essas
falas da ambivalência é aquela que faz o sujeito entrar, por exemplo, num motel
a fim de trair alguém, e, na entrada, soltar esta: “Seja o que Deus quiser!”
Ou ainda quando se sabe que algo nos
fará mal, mas, mesmo assim, se encara o bicho dizendo: “Deus me perdoe, mas eu
vou assim mesmo!”
Essa ambivalência é algo que se vê no
medo seduzido que quase toda criança tem por terror e assombração. Assim, pedem
para você não assustá-las, mas se você ameaça acabar a brincadeira [...] elas
fazem todos os protestos. Querem até saber parte das trucagens das
assombrações, mas amam quando você deixa certos aspectos sob o véu do mistério.
Romanos Sete é a narrativa suprema da
ambivalência humana. Sim, desse mal que detestamos e ao qual devotamos energias
inconscientes e até mesmo à revelia da consciência. De tal modo que fazemos o
que detestamos, enquanto detestamos o que nos seduz até as fimbrias mais
profundas do desejo mórbido.
Morbidez
é o prazer pela e na morte. Assim se pode dizer que todo ser humano carrega, em
graus diferentes, profunda morbidez no seu ser — ainda que nos custe crer em
tal coisa!
Portanto, todos são ambivalentes e mórbidos,
e, portanto, todos carecem da glória e da graça de Deus!
A salvação, em todos os seus aspectos
e nuances, começa com tal admissão. E quem não for capaz de assim se enxergar
jamais perceberá os sutis intrincamentos de sua própria perdição!
Pense nisto, e não fuja de
enxergar-se; pois, sem tal auto-percepção não existe Graça para o coração!
Nele, que foi o Único que não viveu ambivalências,
daí ser o nosso Salvador,
Caio
6 de janeiro de 2012
Copacabana
RJ
Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 7 de janeiro de 2012 às 09:29 e está arquivado em caio fábio,devocional,espiritualidade. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
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