Missão na Nigéria



DE CASA EM CASA - encontrei gente boa de Deus!


Queridos irmãos

Nestes dias estivemos visitando inúmeras casas.

Sinceramente, ontem, ao voltar para o hotel a pé, eu já não queria conversar com ninguém; fiz-me surdo aos chamados de "homem branco" que vinham dos dois lados da avenida.

Eu tinha acabado de passar na igreja evangélica que mantêm o rapaz acorrentado e lá estava ele ainda, enquanto um grupo de “irmãos” se reunia para o estudo bíblico ao lado do local onde ele estava, ignorando-o completamente.

E o pastor me vem com aquela conversa mole de que o rapaz será solto quando liberto do espírito maligno... A vontade é de tirar o rapaz à força, e acorrentar o pastor. Fiz o que eu pude; conversei com o rapaz, falei de Jesus para ele... Falei de Jesus para o pastor; um Jesus que ele não conhece; um Jesus que não acorrenta ninguém; um Jesus que não é sarcástico e que não brinca com a desgraça alheia.

Estou triste e com nojo... lamento lhes dizer isto, mas quero ir pra casa. A Nigéria 99% cristã fede. Preferiria sentir o cheiro do cigarro e da cerveja que os crentes daqui não usam; aliás, neste calorzão que tá fazendo, falta uma cerveja geladinha. Isto é pecado aqui.

E você que é evangélico brasileiro e que já está me condenando por querer uma cerveja e o cheiro do cigarro – vá se enxergar que já estou sem paciência com esta hipocrisia evangélica tola! Tomo cerveja sim, e não tô nem aí se o sujeito fuma. Ele Ceia comigo se ama a Jesus e ao próximo!

Visitamos a casa de um mórmon; e ele conhecia muito bem o trabalho do CRARN na proteção às crianças; não apenas conhecia, ele ajudava com recursos e apoio constantes. Ele nos disse: “Os evangélicos são os culpados por esta desgraça com as crianças do nosso país. Os pastores são os maiores culpados”.

Há um bom tempo deixei de ser evangélico... acho interessante que centenas ou milhares de evangélicos leiam nossos relatos e jamais façam qualquer comentário... Vocês têm razão, é vergonhoso mesmo. É uma vergonha fazer parte de algo chamado evangélico...

São os evangélicos que estão abandonando e matando as crianças; aí os evangélicos brasileiros me dirão: “Eles não são evangélicos de fato”. Pois é, todas as semanas, várias vezes, eles se reúnem aqui na Nigéria; cantam os hinos dos hinários tradicionais e os cânticos conhecidos por quase todos os evangélicos no Brasil. Abrem a Bíblia, leem, oram, intercedem, participam da Ceia dos certinhos, ofertam (e como ofertam!), falam de missões, levantam as mãos para os céus, falam em outras línguas, a mensagem dura quase uma hora, usam o nome de Jesus em tudo; dão glórias a Deus, dizem aleluia a tudo, reúnem o conselho, tratam das coisas do “reino de Deus”, lavram atas, reúnem as mulheres, as crianças, os adolescentes e os homens, fazem conferências missionárias (muitas delas aconteceram em dezembro e janeiro), tem programa de televisão, os pastores são os “homens de Deus”... tudo para Jesus...

Sim, eles são evangélicos. Evangélicos como os evangélicos do Brasil. A única diferença é que aí não matam crianças...

Recentemente estive conversando com um pastor evangélico no Brasil; ele me perguntou o que faríamos no movimento Caminho da Graça quando nos tornássemos uma igreja como as outras, uma instituição institucionalizada.

Eu respondi que nosso compromisso é com nossa geração e que não respondemos pelas futuras e nem nos preocupamos com isso, mas que oramos e trabalhamos hoje pedindo ao Senhor que nos mantenha leves e simples, sempre olhando para Jesus somente e que as futuras gerações sigam este exemplo.

E fiz a ele uma pergunta: você está me perguntando sobre uma possibilidade futura; e, você, o que fará quanto ao que não é possibilidade, mas realidade presente, a corrupção do meio evangélico? Vai continuar sendo evangélico diante de tanto desvio? Por que não faz agora, o que você fará em breve, que é romper com a religião evangélica e passar a pregar somente o Evangelho sem os acréscimos moral-doutrinário-teológicos da sua denominação?

No caminho pelas casas, encontrei gente boa de Deus; gente que ama a Jesus e o serve de coração, gente que frequenta estas igrejas e desejam ver esta tragédia acabar; encontrei também uma jovem com cerca de 20 anos e um senhor com cerca de 80, ambos afirmando que por ordem de Deus os bruxos devem morrer, sejam crianças ou não.

À jovem, pude expor com tranquilidade o Evangelho da Graça e deixá-la pensativa e receptiva a uma mensagem que ela ainda não tinha ouvido. Nos ofereceu água, coisa tão rara por aqui. O octogenário riu de mim quando lhe falei da Graça. Deve ter pensado que somente poderia ser idéia de um rapaz inexperiente.

Crianças sem ter o que fazer, perdidas, olhando para o nada. Muitas delas sem roupas e sujas, Mães que parecem não vislumbrar um futuro melhor, enquanto lavam as roupas no balde de água ou na bacia; conversei com elas ali mesmo. Enquanto lavavam a roupa, ouviam falar daquele que purifica de todo pecado e liberta de todo mal.

A um grupo de crianças, pedi que cantassem cânticos quando lhes falava sobre o perfeito louvor que sai do peito dos pequeninos abençoados por Jesus e que agora estavam sendo amaldiçoados pelos pastores. As vozes saíram lindas e afinadas. A mãe ficou maravilhada; o pai orgulhoso. A mensagem estava entregue: jamais aceitem que acusem seus filhos de serem bruxos, pois eles são amados por Jesus e a eles pertencem o Reino de Deus.

Entramos em casas, sentamos no chão do quintal, abraçamos pais e filhos de uma gente que está sendo amada por nós e que vamos deixar para trás na esperança de que outros irmãos “do bem”, gente da terra, não homens-brancos, continuem este ministério; iremos esperançosos de que os pastores que não aceitam esta prática, vão de fato sair do casulo-templo e expor o peito publicamente para pregar contra a estigmatização das crianças, sem ter medo de expor outros “colegas”. É hora de guerra e não há como fazer aliança com o inimigo. Quem é de Jesus, deve expor-se ao perigo, nem que seja apenas o simples perigo de ser rejeitado pelo grupo.

Não existe espaço para o covarde pastor anglicano que diz não concordar com a estigmatização das crianças como bruxas, mas na frente dos líderes da denominação não tem coragem de admitir. Às favas...

Leiam tudo e retenham o que é bom...

Adailton
Eket - NIG