A loucura da Cruz e o escândalo da Graça – para os cristãos
27 de agosto de 2013
Postado por Marcello Cunha
“Meus filhos, por quem, de
novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós; pudera eu estar
presente convosco e falar em outro tom de voz; porque me vejo per- plexo a
vosso respeito!” Paulo, aos cristãos na Galácia
4:19-20
Por conta do pouco que foi
dito até aqui, a Graça é hoje a mais escandalosa de todas as mensagens cristãs!
No entanto, também é a única que existe! É a loucura da Cruz! E o mais “louco”
disso é que nada disso deveria ser louco para nós e nem fonte de escândalo,
posto que essa mensagem seja o próprio Ensino e Vida de Jesus. É o espírito do
Evangelho! Mas, incrivelmente, estranhamos a Graça de Jesus, nos assustamos com
ela e aceitamos um enredo de perversões da Mensagem que é muito mais assustador
que qualquer Loucura!
Sinceramente, quem não percebe
que atualmente nosso Cristianismo é, quase sempre, a repetição dos mesmos
conteúdos contra os quais Jesus, os profetas do Antigo Testamento, Paulo, os
apóstolos e a Palavra se levantam nas Escrituras?
Hoje as pessoas se convertem à
“igreja”, não a Cristo! É por essa razão que os conteúdos do Evangelho de Jesus
estão tão adulterados entre nós. E pior, parecemos estar com os sentidos
embotados para esta percepção, de modo que o que hoje se vê é uma caricaturização
de Jesus. O Jesus que nos foi apresentado é um composer do Jesus da “igreja”,
moldado para ficar “parecido” com o grupo religioso ao qual a pessoa pertence.
Portanto, o Jesus da “igreja”, na maioria das vezes, é uma fabricação feita
para validar as teses do grupo. E tal “Jesus” não faz nada de bom ou de mal que
qualquer outro condiciona- mento mental, psicológico e cultural também não
realize. A leitura que fazemos do Evangelho é uma adaptação. E é também num
“Jesus de terceira ou quarta mão” que a maioria das pessoas crê!
Posso asseverar, com convicção
e tristeza, que, na igreja evangélica atual, primeiro a pessoa tem de ser salva
do Jesus inventado. Primeiro precisa ser salva do Jesus dos “evangélicos” a fim
de conhecer o Jesus do Evangelho.
É exagero tal dedução? Então,
permita-se uma reflexão honesta. E se Paulo estivesse presente num ano
eleitoral no Brasil? Se visse e soubesse de todas as negociações de almas-votos
que são feitas em Nome de Jesus? E se assistisse pela televisão à venda de
todos os significados cristãos em objetos de energia espiritual pagã? E se
visitasse uma “igreja” e assistisse às filas de pessoas para andarem sobre sal
grosso ou para mergulharem em águas tonificadas do Jordão e a passarem pela
Cruz de Jesus a fim de ganharem um carro zero, como pagamento pela sua crença?
E se ele soubesse agora que a fé é um sacrifício que se expressa como dízimos,
como troca de bênçãos por dinheiro, “sacrificados” no altar-bolso dos pastores,
em longas novenas e correntes as mais mirabolantes?
O que enojaria Paulo seria ver
pastores oferecendo o “sangue do Cordeiro” a fim de ungir a casa de trás para
frente e da frente para trás. O “Sangue do Cordeiro” não é mais o que Jesus fez
na Cruz, mas passou a ser um fetiche, uma mágica de bruxos, uma blasfêmia, um
estelionato satânico dos símbolos de uma Verdade com a qual não se brinca
impunemente.
A carta aos Hebreus foi
escrita por muito menos! O escritor dela diria que estão brincando com fogo
ardente e consumidor e crucificando o Filho de Deus não apenas uma segunda vez,
mas todos os dias – fazendo de Jesus um produto de troca383. Sim! Aquilo que
custou o alto preço de Seu sangue, para que nos fosse gratuito, agora é
mercadoria a ser vendida pelos camelôs do engano, em repetidos sacrifícios e
indulgências!
“Admira-me que estejais
passando tão depressa Daquele que vos chamou na Graça de Cristo para outro
evangelho...” Paulo aos Gálatas 1:6
Meu Deus, e se Paulo
visse?!... Sim, se Paulo nos visitasse? Que epístola nos escreveria?
Veria aturdido o regresso da
fé evangélica aos tempos dos cultos feitos a Baal e às imagens de escultura.
Àquele tempo onde nem sombra ainda havia das sombras das coisas que haviam de
vir – coisas que, inclusive, perderam a simbolização em razão de Jesus haver
sido o cumprimento de todas elas.
Ser evangélico, para o
Apóstolo, significava ter compromisso de fé e vida com o Evangelho de Jesus.
Hoje, ser “evangélico” é pertencer a uma instituição religiosa que roubou o
direito autoral do termo e se utiliza dele praticando um terrível “estelionato”
de símbolos, histórias, mensagens e ilustrações.
Hoje, de maneira geral, quando
um evangélico “evangeliza”, ele o faz a fim de que a “igreja” cresça como poder
visível. Ou seja, “evangelização” significa crescimento numérico sob o pretexto
de salvar as almas do inferno.
Quando Paulo evangelizava,
isso significava levar as pessoas à consciência da Graça salvadora de Jesus e
da possibilidade da experiência da liberdade-salvadora, tanto na vida pessoal
como também na comunitária. O resultado, portanto, não é o surgimento de um número
a mais para as estatísticas celestiais, mas uma nova criatura que o Espírito da
Graça, em Cristo, faz nascer no Novo Homem!
Desse modo, se Paulo estivesse
vivo hoje, provavelmente nos diria que ainda não somos convertidos, pois
voltamos atrás e aderimos aos conteúdos que negam a Cruz de Cristo!
A doutrina do Purgatório é uma
verdade existencial para todos os cristãos – incluindo os protestantes e evangélicos!
E por quê? Ora, dizemo-nos “salvos” pela Graça na chegada. Daí em diante, somos
“santificados” pela Lei (ou por nossas Listas, o que é a mesma coisa na intenção).
Porém, tal “santificação” anula a Graça, pois, se a justiça vem pela Lei,
Cristo morreu inutilmente. Se é pela GRAÇA, já não é mais pelas obras; se
fosse, a GRAÇA já não seria GRAÇA. Então ficamos num purgatório existencial
sobre a Terra, pois nem nos tornamos verdadeiros filhos da Graça e nem nos
entregamos aos rigores da Lei com honestidade. Ao contrário, fazemos o
malabarismo de tentar conter o Vinho da Nova Aliança nos odres da Antiga, que
se tornaram extintos e obsoletos.
Assim, não usufruímos nem a
saúde nem a paz que vem da Graça e, tampouco, conseguimos viver pela Lei. Ou
seja, vivemos em permanente estado de transgressão e culpa. E quanto mais existimos
nesse “purgatório”, mais orgulhosos, raivosos, arrogantes e mal-humorados nos
tornamos, pois no coração temos consciência de que não somos nem uma coisa nem
outra: nem Gente da Graça e nem tampouco o Povo da Lei.
Jesus, porém, não veio ao
mundo para criar um Circo, em alguns casos; uma Penitenciária, conforme outros;
um Hospício, como acontece cada vez mais, ou um Estado Soberano como o Vaticano
Católico e os “vaticaninhos” dos outros grupos cristãos. Em Cristo, não temos
de ser pré-condicionados por nada que não seja o fundamento dos Apóstolos e
Profetas, cuja Pedra Angular responde pelo nome histórico de Jesus de Nazaré.
Quanto à igreja cristã,
sabemos que ela não deixará de crescer em número e em poder terreno. Não. Seus
templos estarão cheios e seu fervor religioso pode até aumentar. Mas saiba que
esse nosso Cristianismo não terá qualquer mensagem do Evangelho a pregar para
as próximas gerações (com suas complexidades psicológicas e espirituais), a
menos que se converta radicalmente à Graça, não como uma doutrina
teológico-moral, mas como a essência de nossa relação com Deus, com o próximo e
com o nosso próprio ser!
Nossa esperança é a
possibilidade de que ele ainda venha a gerar consciências libertas do medo de
ser, podendo experimentar a Graça de viver em Cristo, sem os temores que hoje
são tão bem administrados pela “igreja”, na sua obsessão de ser a
“conquistadora” do mundo e de seus poderes – incluindo almas humanas –, embora
não ajude as pessoas a terem uma alma para gozar a vida em Deus e Deus na vida,
ainda na Terra, pois o “Jesus” da “igreja” veio para que tenhamos medo, e medo
em abundância!
Caio
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