O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus.
2 de setembro de 2013
Postado por Marcello Cunha
O termo Ekklesia sintetiza de
forma impressionante o ser Igreja de Jesus: são os chamados para fora. No entanto,
na história cristã preponderou o caminho inverso que torna os discípulos em
gente “chamada para dentro”, chamada para deixar o mundo, para só considerarem
“irmãos” os membros do “clube santo” e a não buscarem relacionamentos fora de
tal ambiente. Mas, lendo o Evangelho, é difícil conceber que Jesus sonhasse com
aquilo que depois nós chamamos de “igreja”.
Quem pode ouvir o ensino de
Jesus, com toda sua desinstalação, com toda a sua mobilidade, com toda ênfase
na igualdade de todos, com toda denúncia aos poderes religiosos e com toda a
pertinência à vida – fosse para curar a mente, o corpo ou o espírito; fosse
para anunciar a destruição do Templo como lugar de Deus; fosse para
“beatificar” samaritanos e “demonizar”
religiosos sem coração – e ainda assim imaginar que Jesus tenha qualquer coisa
a ver com o que nós chamamos de “igreja”, seja aquela que se abriga em Roma,
sejam aquelas que têm tantas sedes quantos pastores, bispos e apóstolos
megalomaníacos existirem? Não se vê Jesus tentando criar uma comunidade fixa e
fechada, como também não percebo, em seu espírito, qualquer interesse nesse
tipo de reclusão comunitária.
Por isso, o termo igreja
perdeu seu significado original, e, pelo uso milenarmente pervertido, a expressão
já não é útil para designar a jornada individual e comunitária dos discípulos
de Jesus. De fato, a ideia de igreja ficou tão possessa de outros significados
que usar o termo fala da antítese do que se desejaria expressar, conforme o
Evangelho.
Jesus não plantou igreja em
nenhum chão que não fosse o do coração das pessoas.
Igreja, de acordo com Jesus, é
comunhão de dois ou três em seu Nome e em qualquer lugar. Igreja, de acordo com
Jesus, é algo que acontece como encontro com Deus, com o próximo e com a vida,
no caminho do Caminho. Para Jesus, o lugar onde melhor e mais propriamente se
deve buscar o discípulo é nas portas do inferno, no meio do mundo!
Nesse Caminho, as maiores
demonstrações de fé vêm de fora da religião. Vêm de publicanos como Zaqueu e de
meretrizes como a pecadora que ungiu seus pés. Vêm da mulher samaritana, do
centurião romano, da mulher siro-fenícia e do ladrão da Cruz. Percebe-se que
tanto “malandros arrependidos” quanto “réus confessos” podem encontrar seu
repouso.
Portanto, seus discípulos são
treinados a espalhar se- mentes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade
e a sobreviver com dignidade no caminho, com todos os seus perigos e possibilidades
em aberto. Com demônios, tempestades, competições entre si, certezas satânicas,
exageros desnecessários, medo de trair, frágeis certezas de jamais trair,
traição explícita, negação e morte!
E, além disso tudo, vê-se que
no Caminho com ele os ventos cessam, as ondas se abrandam, as Leis do Universo
são relativizadas, os demônios sabem quem ele é e quem nós somos nele!
Jesus é o Caminho em movimento
nos caminhos da existência. E seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia
entre eles. No mais, existem as multidões, as quais Jesus organiza apenas uma
vez, e isso a fim de multiplicar pães. De resto... Elas vêm e vão... Ficam ou
não... Voltam ou nunca mais aparecem... Gostam ou se escandalizam...
Maravilham-se ou acham duro o discurso... Mas Jesus nada faz para mudar isso.
Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra.
Não, Jesus não pretendia que
seus discípulos fossem mais irmãos uns dos outros do que de todos os homens.
Não, Jesus não esperava que o
sal da terra se confinas- se a quatro dignas paredes de um Saleiro Comunitário.
Não, Jesus não deseja tirar
ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da terra, mas apenas deseja que sejamos
livres do mal.
Não, Jesus não disse: Eu sou o
Clube, a Doutrina e a Igreja; e ninguém vem ao Pai senão por mim.
Assim, na assembleia dos
chamados para fora, todos se encontram com o irmão de fé e também com o próximo
que não tem fé, e todos são tratados com amor e simplicidade.
Em Jesus, o discípulo é apenas
um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa
“comunidade paralela”, mas no mundo real.
Caio
Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 2 de setembro de 2013 às 12:31 e está arquivado em Caminho,comunidade,igreja,sal. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
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7 de setembro de 2013 às 06:53
Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
reparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.
8 de setembro de 2013 às 22:22
Isso esta claro no ensino de Jesus, precisamos, como Igreja, chamados para fora, refletir sobre nossa condição hoje. Será que estamos vivendo como discípulos de Jesus fora da Igreja? Entendo que não, estamos com um câncer que precisa ser curado, mas como? Se o povo foi doutrinado assim!
8 de setembro de 2013 às 22:29
Isso esta claro no ensino de Jesus, precisamos, como Igreja, chamados para fora, refletir sobre nossa condição hoje. Será que estamos vivendo como discípulos de Jesus fora da Igreja? Entendo que não, estamos com um câncer que precisa ser curado, mas como? Se o povo foi doutrinado assim!