E Jesus disse-lhes: Adverti, e acautelai-vos do fermento dos fariseus e saduceus. (Mt 16:6)
  
Os saduceus, partido oposto à seita dos fariseus, compunham-se de um número comparativamente reduzido de homens educados, ricos e de boa posição social. Negavam a ressurreição e juízo futuro, afirmavam que a alma morre com o corpo (Mt 22. 23-33; At 23. 8), negavam a existência dos anjos e dos espíritos (At 23. 8), e também diziam que Deus não intervém nos atos de nossa vida, quer sejam bons, quer não.¹


Enquanto os fariseus se preocupavam com o cumprimento das exterioridades da lei, e ainda por cima a todo custo e sem misericórdia, os saduceus iam por outro caminho: o da elegante "racionalidade espiritual". Assim, já chegavam contando complexas estorinhas-de-muito-pelo-em-ovo-típicas-de-quem-não-tem-o-que-fazer-e-muito-menos-crer ("a anja vai casar com qual anjo, Senhor??"), ou olhando com o rabo do olho no meio da discussão, ironizando e pedindo evidências ("e tentando-o, pediram-lhe um sinal do céu"). E por aí vai...

O problema dos saduceus era que, apesar de procurarem seguir a literalidade das escrituras, a faziam em espírito vazio, e consequentemente, em desobediência liberal, relativizando a Palavra de Deus pra adequá-la aos limites de até onde ia suas próprias percepções. Assim, como a fé deles estava escorada apenas no que conseguiam ver e entender, então simplesmente não admitiam o sobrenatural, como a ressurreição, por exemplo.

Não é de se estranhar, portanto que, estes mesmos, depois de presenciarem muitos milagres durante o crescimento da Igreja, "tomaram-se de inveja" e prenderam os apóstolos (At 5:12-18).

Mas talvez pelo NT citar muito mais os fariseus (e os problemas que Jesus teve com estes), costumamos imaginar que a doutrina dos saduceus era um problema menor, que os fariseus são mais presentes em nossos dias, e que é apenas com esse lado do pêndulo que precisamos tomar cuidado. 

Mas em várias passagens percebemos que tanto fariseus como saduceus "chegavam juntos" pra encher a paciência de Jesus, e que ambos no fundo, no fundo, eram apenas dois diferentes lados...mas da mesma moeda.

E isso tudo não começou no NT. Até na queda do homem percebemos os argumentos tanto legalistas como liberais usados pela serpente em sequência, ambos mentirosos:

"É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?" (tentativa de acréscimo de algo à Palavra, incitando acolher-se um mandamento não-mandado);

e...

"Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis (tentativa de subtração de algo da Palavra, incitando à dúvida sobre se o mandamento seria realmente mandamento a ser seguido ou papo-furado de Deus...).

A questão é: ser legalista não é nem um pouco pior do que ser liberal!
Ambos são apenas dois lados da mesma moeda: a tentativa de relativização e corrupção da Palavra de Deus.²

Aliás, segundo diz a história, [...] é possível que os saduceus tenham começado por negar as doutrinas expressamente ensinadas na letra da Escritura, e mais tarde renderam-se influência da filosofia grega, adotaram os princípios aristotélicos, recusando-se a aceitar qualquer doutrina que não pudesse ser provada pela razão pura.¹

Aqui também, pelo menos pra mim, nenhuma surpresa, pois já vi gente que há muito já se perdeu em seus infinitos achismos cult, e hoje nem mais sabe bem em quem realmente crê. Às vezes até dizendo, na cara dura: "geeeentem...o cânon não é de Deus, é do homem..."

Estado permanente de descrença, filosofice pra tudo, e a própria pseudointelectualidade como norte da vida...enfim, cristãos pra quem parece que o testemunho da Palavra pura e simples é algo "básico demais"...simplesmente não basta e até é meio brega!  Tem sempre que ter um monte de porquês, etc, etc...mas claaaaro, sempre escorados na piedosa idéia de que "eu, pelo menos estou sendo sincero comigo mesmo, né..."

O problema é esse jeito pouco simples de crer.
  
"O que vejo é que estes, diferentemente dos falsos profetas e dos lobos, fazem seu próprio mal; posto que sejam mornos, sem intrepidez, sem disposição para além do discurso...
Portanto, sendo educados, parecem ganhar pela polidez de suas dúvidas o direito de existir em crise; sendo cavalheiros e finos, parecem poder caminhar em descrença aceitável; estando sempre em dúvida acerca de algo [...] mesmo assim continuam a discutir sobre o “tema Jesus”...
E, com isso..., se fazem passar por gente que duvida em razão de serem íntegros em relação à própria fé... Posto que sendo articulados, tornam seus conflitos elogiáveis, pois são ditos com benditas palavras psicológicas e filosóficas; e, sendo humanos no expressar seu sentir, ganham o direito de existir em dor, pois, sem dor de crise parece não existir real humanidade; tendo cultura, aparentemente dão aos demais crentes, menos instruídos, a sensação de que eles, os cult, os cultos, os sensíveis, são assim em razão de seu saber, da profundidade do seu sentir, e das angústias decorrentes de sua humanidade superior a dos demais...!" (Caio Fábio) ³

O problema é esse jeito pouco simples de crer!
Ter crises de fé é uma coisa. Mas cultuar a falta crônica de fé como algo chique é pecado, e nada mais. É pura enganação do diabo, e que simplesmente nos paralisa no crescimento na nossa fé. 
Enfim, é pura vaidade!...sobre a qual Jesus é bem simples e direto na resposta: "Errais, não conhecendo as Escrituras e nem o Poder de Deus!"

A quem assim se sente, o chamado de Jesus é para que dê um basta nesse cult e preguiçoso conformismo, tome coragem de jogar-se aos aos pés Dele...e chorar...e dizer: "Senhor, eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé"! (Mc 9:24).


Marcelo Marini


Referências:
¹ www.vivos.com.br (fonte inicial: Dic. da Bíblia John Davis)
² Pr. Caio Fábio: pregação "A Síndrome de Eva"
³ Pr. Caio Fábio: link "Aos crentes na dúvida sobre Jesus..."