Quem de vocês quer amar a vida e deseja ver dias felizes?
22 de junho de 2012
Postado por Unknown
Salmo 34
Este é um
dos salmos da minha infância, um dos salmos que, especialmente a minha avó
materna, a “mãe velhinha”, usava para nos colocar para dormir. Minha mãe
também, mas eu tenho muito a lembrança infantil da minha avozinha recitando e
fazendo a gente repetir com ela, todas as noites, os versos 6, 7 e 8, que dizem:
Clamou
este aflito, e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas tribulações. O anjo
do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. Oh! Provai e vede que
o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. Isto
acontecia todas as noite. A gente dormia recitando estes versos do salmo 34. E
hoje eu quero que leiamos juntos o verso 12, enquanto você mantém o salmo
aberto.
Verso 12...
Quem é o
homem que ama a vida e quer longevidade para ver o bem?
Na verdade,
longevidade é a única palavra cujo significado esta geração nem sempre conhece.
Longevidade significa viver muito. Quem é o homem que ama a vida e quer viver
muito para ver o bem? – é a pergunta do salmo. E o salmo responde a esta
pergunta de todos os modos; ela está aqui no meio do salmo, mas ele todo é, de
certa forma, uma resposta a essa questão. Fique com isso em mente, porque na
sequência o salmo começa a nos dizer quem é o homem que ama a vida e quer
longevidade para ver o bem.
A pergunta
que fica para nós, de fato, é: quem é esse homem que ama a vida e quer
longevidade para ver o bem? “Quem é o homem que ama a vida?” é a primeira
pergunta para nós. Dependendo de onde você esteja, a resposta vai variar. Haverá
pessoas que dirão que o homem que ama a vida é aquele que busca viver com
intensidades inimagináveis e impensáveis: o rapaz que ama a vida é aquele que
quer ter três, quatro meninas simultaneamente ficando com ele; e a menina que
ama a vida é a que vai para uma rave
e depois não sabem nem quantas bocas beijou, e coisas mais; o homem que ama a
vida é aquele que se esforça para ter a maior quantidade possível de recursos
materiais pelos quais ele possa dizer que roda, viaja e conhece a terra toda, e
passa suas férias e até os feriadões nos lugares mais exóticos do Planeta
porque ele ama a vida, e no dia em que ele morre os amigos dizem: aqui está um
homem que amava a vida, amava a terra, amava os pores do sol, e vivia à procura
de cores diferentes, de culturas distintas.
Em outros
lugares o homem que ama a vida é aquele que, mesmo em meio às suas muitas
tristezas de alma, não desiste nunca de fazer poesias, versos, canções,
melodias – ainda que melancólicas e doídas – acerca dos seus amores frustrados.
E, também, o homem e a mulher que amam a vida são aqueles que dedicam-se a uma
causa de natureza social e fazem o bem onde podem, como podem, socorrendo os
mais pobres, os mais necessitados, os aflitos; ou que se entregam a uma missão
distante, longe dos confortos da família, para atenderem às causas da vida. Ou,
então, o homem que ama a vida, hoje em dia, do ponto de vista mais amplo,
politicamente correto, é aquele que trabalha para defender o meio-ambiente, que
não está defendendo apenas as causas imediatas, mas, também, a vida futura; que
não defende apenas a vida humana, mas, também, a de todas as criaturas no
Planeta. E se nós formos perguntando a seguimentos diferentes da humanidade,
ouviremos respostas distintas sobre o significado de amar a vida.
A questão é:
o que Deus chama de amar a vida? E por que Deus vincula o amar a vida a essa
vontade de viver uma vida para ver o bem? Porque, de certa forma, a resposta à
pergunta “o que significa amar a vida?” está respondida na sequência da própria
pergunta “quem é o homem que ama a vida e quer viver vida suficientemente longa
para ver o bem?”. Assim, o homem que ama a vida é o homem que quer viver para
ver o bem, para fazer o bem, para contemplar o bem, para ser patrocinador e regozijador
pessoal na verificação do bem que aconteça; ele não apenas torce pelo bem, mas
é, antes, agente do bem, é parte integrante da produção do bem, é conteúdo
humano existencial da constituição do que seja o bem na vida e na Terra. Esse é
o homem que ama a vida, é o homem que quer vida para ver o bem.
Todo ser
humano que de fato ame a vida é esse ser humano que quer ter vida para ver as
coisas boas acontecerem. Ele se regozija nessa possibilidade, ele a alimenta,
ele sonha com ela, ele tem esperança nela, ele trabalha por ela, ele se dedica
a ela. Isso não é apenas um alvo que ele põe na perspectiva de que a loteria
faça acontecer, de que a sorte faça realizar, de que as coincidências dos
vetores e fatores desta vida convirjam de maneira cega para fazer acontecer o
bem. Ao contrário: esse homem que ama a vida é o mesmo que faz de tudo para ter
vida suficientemente dedicada à causa do bem de modo que ele veja acontecer o
bem pelo qual ele trabalha. Ele não é um torcedor do bem, ele não faz parte da
torcida organizada do bem, ele não fica aqui dizendo: “puxa, aquele cara ali é
legal, tomara que dê certo a vida dele; vai, vai, lá, legal, vai, vai... Oh,
que pena, bateu na trave, chutou pra fora... Oh, acidentou-se, teve um
estiramento, não vai poder jogar, ficou fora do jogo, que pena, tomara que
tenha um substituto à altura...”. A maioria das pessoas que eu conheço, na
melhor das hipóteses apenas torce pelo bem – as melhorezinhas. Mas gente que
ama a mesmo a vida de acordo com Deus, e cujo amar não é um amar egótico, não é
um amar do seu umbigo, não é o amar do seu capricho, não é o amar vinculado às
suas vaidades, às suas tolices, não é o amar das suas demonstrações, não é o
amar das suas performances, não é o amar da experiência da multiplicidade de
prazeres, não é o amar hedônico, não é o amar das afetividades idolatradas, não
é o amar da idolatria sensorial, que diz: “tudo o que for possível sentir neste
corpo, nesta alma, ah, eu quero ter essas sensações”; quando é esse amar
segundo Deus, essa pessoa se dedica às coisas que realizam o bem, e bem que ela
quer ver com seus próprios olhos, não como quem assiste à distância, mas como
quem foi partícipe, produtor, agente e coadjuvante ativo na promoção daquilo
que ela amava como vida. E ela amava a vida como bem e amava o bem como vida.
E é isto que
o salmo diz para cada um de nós, hoje. E responde a essa pergunta de maneira
simples, com talvez quatro ou cinco elementos pivotais que determinem o
significado desse ser humano que ama a vida e quer viver o suficiente para ver
o bem materializar-se diante dele como obra das suas mãos; ou como obras das
mãos dos outros, mas sendo ele mesmo participante de tudo o que signifique vida
e bem, bem e vida na sua própria existência, na sua própria possibilidade de agir e interferir para realizar, tanto
quanto na alegria do seu coração para celebrar o que ele constate como bem
sendo produzido à sua volta.
Em primeiro
lugar, o verso 13 nos diz que esse ser humano que ama a vida e quer longevidade
para ver o bem é definido pelo seguinte aspecto do seu caráter e da sua
atitude: ele refreia a língua do mal. Veja como é diferente o conceito de
amar a vida e querer ter vida longa para ver o bem proposto pela Palavra, dos
demais conceitos de amor pela vida e de querer longevidade para ver aquilo que
se chama de “coisas legais”. Aqui no salmo se diz que quem ama a vida e quer
ter vida para ver o bem não é aquele que acumula montanhas de dinheiro, nem
aquele que faz multidões de amigos, nem aquele que se torna o ente mais popular
da vida atropelando e negociando a sua integridade e o seu caráter; mas a
primeira marca, o primeiro sinal desse indivíduo é que ele refreia a sua língua
do mal, ele chupa a língua para dentro, ele engole a língua de falar o mal –
que é uma coisa que demanda um autocontrole extraordinário. Quem ama a vida e
quer ter vida longa para ver o bem, a primeira coisa que tem de fazer é botar
um cabresto na língua, é ser o cavaleiro montado sobre o burro da sua língua,
sobre o jumento da sua língua, sobre o cavalo da sua língua. Se quiser ter amor
pela vida, se amar a sua própria vida e amar a vida dos outros, e se quiser
viver vida boa, mansa e tranquila para ver o bem, a primeira coisa a fazer é
refrear a sua própria língua.
E refrear a
sua própria língua é uma coisa que quase ninguém aqui leva a sério. A maioria
aqui fala o que passa na cabeça, o que dá na veneta. Quando não faz isso é
porque está num grupo de pessoas muito estranhas e, não conhecendo as figuras,
diz: sei lá se tem um primo do cara aqui, se esse gordinho é irmão dele, deixa
primeiro eu saber onde estou pisando; porque se não houver genealogia de
conectividade, se não houver nenhum vaso comunicante negocial ou financeiro a
me prejudicar, se não houver nenhum vínculo psicológico a trabalhar contra mim
depois, o que me der vontade de falar, eu falo!
Você ama a
vida? Quer ter uma vida boa e longa para ver o bem? Refreie a sua língua de
falar o mal, controle a sua língua, pelo amor de Deus. Como prossegue o salmo,
exortando: refreia a língua do mal e os lábios de falarem dolosamente. Falar
dolosamente, maliciosamente, sorrateiramente, a ponto de solapar, de minar os
fundamentos da existência de uma outra pessoa, que é o que nós fazemos com a
utilização da língua. Quando nós não destruímos de todo uma pessoa, às vezes
nós dinamitamos as bases, colocamos explosivo suficiente para rachar, para
fazer uma ranhura nas bases do outro; ele não cai, mas qualquer tempestade mais
forte o derrubará, porque o deixamos nesse ponto de fragilidade. Quem ama a
vida, portanto, aqui tem a sua primeira resposta. Quem quer que tenha esse amor
pela vida tem autopreservação; quem tem amor pela vida ama o significado da
existência do próximo; quem tem amor pela vida e quer longevidade para ver o
bem deixa de fazer a coisa mais danosa que alguém supostamente amando a vida
viesse a fazer contra a sua vida e contra a vida do outro, que é soltar seus
próprios lábios para falarem de maneira maliciosa e dolosa.
Agora olhe
de maneira prática para a sua vida e veja a quantidade enorme de situações que
deixaram você em estado de angústia, de aflição, de constrangimento, de perda,
de tristeza, de vergonha, de brigas, de conflitos, de guerras, de deterioração
de relacionamentos e de amizades. E veja se praticamente todas elas não
decorreram de que você não refreou a sua língua, tenha sido num relacionamento,
tenha sido no casamento, tenha sido numa amizade, tenha sido nas relações
profissionais, tenha sido nos ambientes onde você transita. Veja se quase tudo
que lhe trouxe problema até hoje na vida não veio e não decorreu de você ter
falado o que não devia, de ter aventado e expressado o que não poderia, de ter
comentado inadequadamente – o que você fez confiadamente e ingenuamente, mas,
também, maliciosamente o fez, pois não devia jamais ter feito, uma vez que
fazer aquilo não acrescentaria nada a você mas poderia, no mínimo, desconstruir
alguém; e você viveu o suficiente para ver que ninguém fala impunemente,
ninguém opina impunemente, ninguém perde o controle emocional e expressa as
suas raivas, iras e opiniões impunemente; e que depois não dá para recolher. Às
vezes nós até somos perdoados por aquele a quem ofendemos; mas, muitas vezes, a
coisa transcende à pessoa por nós ofendida e que nos perdoou, e, para além dela,
fica ainda, no coração dos que viram e ouviram o que fizemos, uma certeza sobre
a nossa inconfiabilidade, sobre a nossa explosividade, sobre a nossa
pusilanimidade, sobre a nossa impossibilidade de nos controlarmos, sobre a
nossa falta de integridade, sobre as pulsões do nervosismo da nossa alma, sobre
nossa instabilidade; o que afasta pessoas de nós, o que arruína
relacionamentos, o que nos deixa sob suspeição por muito tempo ante a percepção
de muita gente, o que nos coloca sob juízo, sob observações desnecessárias.
De tal modo
que a sabedoria de Provérbios nos diz que até o tolo, até o bobão, até o idiota
quando se cala passa por sábio, mas aquele que muito fala não só muito peca,
como, também, muito ofende, muito transgride e muito chama sobre si calamidades
desnecessárias. Quantas vezes o telhado da casa de alguém aqui já caiu, já veio
abaixo, literalmente? Uma pessoa, duas – olha só como é um percentual mínimo.
Agora vou fazer a mesma pergunta de outro modo: Quem aqui pode dizer: “Caio, eu
falei o que não devia e a minha casa veio abaixo”? Olha só: quase todo mundo.
Veja como o telhado cair é bastante improvável, mas derrubar a casa com uma
palavra é de uma factualidade estatística quase absoluta, aqui entre nós.
Para não
constranger ninguém, eu não vou perguntar aqui quem já foi traído pela mulher,
pelo marido, pelo namorado ou pela namorada, pois essa pergunta já tem uma
resposta estatisticamente óbvia. Vou assumir que pelo menos umas quarenta
pessoas aqui diriam que sim. Mas vou fazer uma pergunta um pouco diferente: vou
pedir que levante a mão quem, aqui, já perdeu relacionamentos afetivos porque
falou o que não devia. Agora, inclua nos afetivos os relacionamentos fraternos,
os amigos – continuem com as mãos levantadas. Agora, inclua nos afetivos e
fraternos as amizades potenciais, que poderiam ser muito legais e não
continuaram. E quem, hoje, tem certeza de que pelo mesmo motivo não foi
colocado num emprego ou não permaneceu nesse emprego, levante a mão. Vários. Se
eu perguntasse também quem é que deixou de conquistar aquele menino ou aquela
menina porque já falou tanto sobre outros “ex”, que chegou ao ouvido dessa
conquista potencial o que você falou dos outros, e que por causa disso ele, ou
ela, disse: “bom, se ela (ou ele) fala assim dos que passaram na sua vida – e
eu não sei se vou ficar –, eu tenho medo até de me aproximar”; se eu fizesse
essa pergunta, tenho certeza de que a maioria levantaria a mão (muitos não
levantariam porque nem sabem que foi por essa razão que rodaram). E ainda
existem os que perderam negócios porque falaram antes da hora, aqueles casos em
que a pessoa chega e diz para a outra: olha, existe uma chance de nós fazermos
um negócio legal, mas não diz nada para ninguém, vamos esperar ficar tudo preto
no branco. Aí a pessoa sai querendo se afirmar sobre os seus amigos, já chega
logo para a namorada querendo tirar uma onda e diz: “você não sabe, meu amor, o
que está pra acontecer, eu estou na iminência de fechar um negócio, vamos
comemorar em um restaurante!”. Aí o indivíduo ainda está fechando a conta, e a
namorada já está contando para a melhor amiga, que responde: “Não me diga, o
seu namorado está fechando negócio com o Fulano?! Eu sou amiga da namorada
dele!”. E já vai logo contar para a outra amiga. E, aí, a casa inteira cai, e o
negócio se acaba. Você fica ligando para quem ia lhe propor negócio, mas ele
não te atende nunca mais, pois diz: eu não vou fazer negócio com esse idiota,
babão!
E
multiplique as situações. Eu ousaria dizer que noventa e cinco por cento das
coisas que se tornam problemas para nós não são acidentes, não é a casa que cai
na cabeça da gente, mas, sim, o que a gente derruba com a língua: é por não
refrear a língua do mal, por não deixar de falar dolosamente, não deixar de
falar maliciosamente, não deixar de falar precipitadamente, não deixar de falar
imponderadamente, não deixar de falar inconsistentemente. É por não deixar de
falar! Quem consegue refrear a sua língua possivelmente diminui na própria
existência noventa e cinco por cento de potencial calamitoso. Até a máfia sabe
disso; é por isso que quando o cara faz o juramento de sangue lá, o juramento é
“não falar”. Porque se falar, roda. E se descobrirem que fala, matam. Você está
pensando que é só na máfia que não falar preserva a vida? Na vida, não falar
preserva a vida.
Veja bem o
que você fala, porque a maioria das coisas que você diz não tem importância
nenhuma na construção da vida; só tem poder na desconstrução da vida, mas não
constrói a vida. Falar tais coisas pode dar um prazer mórbido, uma sensação de
poder, de conhecer segredos, de ter penetrado na indevassabilidade das pessoas,
pode dar uma sensação de posse de informações, pode gerar em você um sentimento
de estar cimentando um relacionamento com base numa confissão que o outro não
tinha acerca de um terceiro que ele conhecia; pode dar essa impressão falsa de
intimidade, mas isso é mau e é doloso, vai fazer mal à existência de alguém.
Portanto, não vai realizar o bem. E, com certeza absoluta, trará males sobre a
sua vida, porque Jesus disse que de toda palavra frívola que sair da nossa
boca, dela daremos conta no dia do juízo. E damos conta dela nos dias de juízo
que vêm sobre nós já na presente existência – antes que aquele grande dia
venha, centenas de vezes nós somos visitados pela desgraçada avant-premiere daquela possibilidade.
Portanto,
quem ama a vida e quer viver para ver o bem refreia a sua língua do mal e os
seus lábios de falarem dolosamente.
A segunda
coisa que o salmo diz é: Aparta-te do mal e pratica o que é bom;
procura a paz e empenha-te por alcançá-la. Não basta refrear a língua do
mal. O que aqui se diz é: aparta-te do mal, fica longe dele. Porque tem gente
que diz: “bem, eu apenas não falo, mas sei de todas as fofocas. Eu não digo
nada, me preservo, porque aprendi, no salmo 34, a ficar de boquinha pequena,
mas eu tenho uns amigos que são uma delícia; as companhias mais gostosas são as
maliciosas, a gente se senta com eles e fica sabendo quem está pegando quem,
quem está roubando quem, quem foi visto com quem, quem a gente não sabe se já
está, mas possivelmente sim, quem é que está sabendo das coisas e sabendo o
quê”. Tem gente que adora viver desse colecionismo de informações, sentado
nessa roda de escárnio: “eu sou muito amigo do contador do Fulano, fiquei
sabendo quanto é que ele conseguiu não pagar à Receita, este ano; não vou falar
pra ninguém, mas é uma delícia saber disso! Toda vez que ele passa por mim eu
olho pra ele e penso: lá vai você, né, Fulano? Deu um golpe de tanto, no Leão.
Sorte sua que eu sou crente e não vou falar pra ninguém”. Não fala para
ninguém, mas ama sentar do ladinho dos calhordas que ficam falando disso o dia
inteiro; fica lá, mudo, crente, piedoso, só fazendo cara de assustado, e
fazendo de conta que não tem nada com aquilo. Aí quando perguntam o que ele
acha, ele diz: “não tenho comentários a fazer; misericórdia, Senhor,
misericórdia!”. E fica lá, não se aparta do mal, acha que porque não é um
divulgador ele tem o privilégio de ser uma companhia da maldade onde tudo isso
é produzido. Se a pessoa que foi objeto daquelas conversas ficar sabendo que
ele estava nessa roda e for confrontá-lo, ele acha que tem um álibi, que é a
desculpa de dizer: “é verdade, eu estava lá, afinal de contas eu sou amigo dos
meus amigos; mas você não ouviu ninguém dizer que eu tenha falado qualquer
coisa; eu apenas ri, sacudi a cabeça, discordei – nem tanto de você, mas mais
dos que falaram”.
“Aparta-te
do mal” não é apenas um conceito, significando “afasta da tua mente os
conceitos malignos”. Antes, significa: afasta da tua vida a cronificação das
companhias malignas, das escolhas malignas, dos acompanhantes malignos com os
quais tu convives na passividade omissa da malignidade praticada e que tu
pensas que não é tua só porque tu não és sócio maligno da execução.
“Aparta-te
do mal e pratica o que é bom”. A gente se afasta do mal para praticar o que é
bom, pois não dá para praticar o que é bom estando associado ao que é mau.
“Procura a
paz”. Tem gente que fica orando, pedindo a Deus: “Senhor, derrama a tua paz
sobre mim!”, mas fica no meio de todas as confusões. Onde tem um pau cantando,
lá está ele no meio, mas com a mão para cima, dizendo: “envia a tua paz,
Jesus!”. Fala mal dos outros e pede paz aos céus. Assenta-se na roda de
escarnecedores e depois diz: “Senhor, visita-me com a tua paz”. Não se desgruda
do mal e pede paz. Não faz o bem e pede paz. E na realidade o salmo não manda
nem que nós peçamos paz; manda, sim, que nós procuremos a paz: procura. Procura
gente de paz. Como Jesus disse: “Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo:
Paz seja nesta casa! Se houver ali um filho da paz, repousará sobre ele a vossa
paz; se não houver, ela voltará sobre vós”. Paz é para ser procurada. Nós temos
que procurar relacionamentos de gente da paz, de gente da bondade, de gente da
boa vontade, de gente da discrição, de gente da sobriedade, de gente que não
destrata e não e destrói os outros com a língua, de gente que edifica, de gente
que constrói, de gente que não tem nenhum prazer na divulgação da perversidade,
de gente que tem um coração silencioso o suficiente para orar por aqueles que estejam encalacrados, ao invés de pedir oração divulgando,
piedosamente, a maldade. Procura a paz! Quem é o homem que ama a vida e quer
longevidade para ver o bem? É aquele que refreia a sua língua do mal, que
contém os seus lábios de falarem dolosamente, que aparta-se do mal, que pratica
o que é bom, que procura a paz e empenha-se por alcançá-la, se esforça, em
todos os sentidos, para alcançá-la.
A minha
pergunta é: você se esforça pela paz? A sua guerra, a sua causa é manter a paz?
É a sua labuta, é o seu grande esforço, é a grande aventura da sua vida buscar
e manter a paz? É a obsessão santa da sua existência procurar e manter a paz,
no que depender de você, manter a paz com todos os homens, sempre, apartando-se
do mal, praticando o que é bom, refreando a sua língua de falar dolosamente, de
praticar com a boca o que seja mal? Você é um mantenedor da paz? Os outros
podem dizer de você: eis, ali vai um filho de Deus, porque é um reconciliador
de seres humanos, um mantenedor da paz, porque se empenha por alcançá-la? Ou
você é um daqueles que, como eu ouço de muitos, dizem: “eu aprendi com meu avô
uma sabedoria divina: eu dou um boi pra não entrar, mas uma vez dentro, me
perdoe, mas eu dou uma boiada para não sair!”. Parece até que foi o Espírito
Santo que falou isso, parece que isso é um mandamento, que foi Jesus quem
disse: ouvistes o que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente; em
verdade, em verdade, vos digo: dai um boi para não entrar e uma boiada para não
sair – de tão axiomático e dogmático que se tornou esse dito popular no coração
dos sábios estúpidos que nos cercam.
Quem é o
homem que ama a vida e busca longevidade para ver o bem? Se nós voltarmos um
pouco no salmo e lermos nos versos 4 e 5, descobrimos a terceira característica
desse homem. Assim dizem esses versos: Busquei o Senhor, e ele me acolheu;
livrou-me de todos os meus temores. Contemplai-o e sereis iluminados,
e o vosso rosto jamais sofrerá vexame. Essa é a terceira marca do
indivíduo que ama a vida e quer longevidade para ver o bem. Ele busca, mesmo, a
Deus.
E buscar a
Deus não é apenas dizer: “Ah, de sete horas às sete e quinze eu fecho a porta
do meu quarto, oro um Pai Nosso,
recito o credo apostólico, oro pelo papai, pela mamãe, pelo meu marido (ou
minha mulher), pelos meus filhos, por aqueles que estão me devendo grana para
que me paguem; e peço a Deus para me dar uma dose especial de paciência em
relação àqueles em que eu tenho vontade de dar uma surra, para que eu não faça
nenhuma maluquice – eu estou buscando o Senhor”. Buscar o Senhor é buscar a
semelhança de Deus, buscar a Deus é querer ficar parecido com ele. Buscar a
Deus, como diz o verso 5, é contemplá-lo. “Busquei o Senhor e ele me livrou de
todos os meus temores. Contemplai-o e sereis iluminados, e o vosso rosto jamais
sofrerá vexame”. Buscar a Deus e contemplar a Deus se fundem. Buscar a Deus é
buscar o caráter de Deus, é buscar o mandamento de Deus, é buscar a mente de
Cristo, é buscar obedecer o sentido da vida segundo Jesus. Buscar a Deus é buscar conformação do nosso ser com a
palavra revelada de Deus. Buscar a Deus é entrega, buscar a Deus é submissão, buscar a Deus é confiança, buscar
a Deus é mergulhar na semelhança dele, é contemplá-lo para que com ele nos
assemelhemos. E a promessa disso aplica em nós realidades extremamente
práticas: ele me livra de todos os meus medos, e me salva de todos os meus
vexames.
Não é uma
coisa maravilhosa você ficar livre dos seus medos? Pense nos seus medos. Quais
são eles? Vamos deixar de fora a fobia de barata (senão quase todas as mulheres
estariam em maus lençóis), fobia de rato, fobia de cachorro, de pelo de gato.
Tudo isso é bobagem. O que eu quero saber é quais são os seus temores. Você tem
medo de morrer sozinho? Tem medo de que os filhos se esqueçam de você na velhice?
Tem medo de ser traída pelo marido ou traído pela esposa? Tem medo de contrair
um câncer? Tem medo de morrer de uma doença respiratória, tendo que ficar entubado
no hospital? Tem medo de assalto? Tem mais medo de assalto na rua ou de invasão
de ladrão em casa? Alguns aqui têm
pânico de assalto e de invasão de ladrão.
“Busquei o Senhor e ele me livrou de todos os meus temores”.
Você acredita que Deus pode livrar você desse seu pânico horroroso de assalto?
Claro que Jesus não mandou que nós procuremos atravessar o caminho entre
Jerusalém e Jericó na hora em que todos os assaltantes estiverem de plantão.
Mas andar em paz é uma coisa que está para além disso. É claro que Jesus disse:
Se o pai de família soubesse a que horas viria o ladrão, fecharia bem a sua
porta e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. É por isso que fechamos as
portas das nossas casas nos horários das conveniências. Por isso, quando saímos
de casa e não deixamos ninguém lá, fechamos a porta e as janelas. Por isso,
quando vemos estatísticas de assaltos na vizinhança, nós tomamos certas
precauções, subimos uma cerca, colocamos cadeado nos lugares mais vulneráveis.
Nenhuma dessas ações significa medo; significa apenas precaução. Mas, na
realidade, esses que disseram que têm muito medo de assalto estão falando de
algo que é mais do que a necessidade de precaução. Estão falando de uma energia
assustada e que habita a nossa mente. Eu ando realmente sem medo – Deus sabe,
os anjos sabem e a minha família também sabe disso. Eu tomo minhas precauções,
pois sou um pai de família, não gosto de tomar prejuízos nem vou colocar quem
eu amo sob ameaça de alguma coisa que eu possa prevenir com um trinco, com uma
cautela, com uma lâmpada, com uma fechadura, com um cadeado. Mas o medo não me
habita em nenhum momento, creiam. Sinto medo de um leão, se eu cair no fosso
com ele, lá no zoológico. Nesse caso é um medo racional, ele é um leão e eu sou
um humano, ele pode estar com fome; mas se ele tiver acabado de comer muito e
estiver deitado, eu vou sair de fininho, tentando nem sentir medo, que é para
ele não sentir o cheiro do meu suor medroso e não acordar farejando: quem é
esse frouxo que caiu aqui? Porque medo exala; as pessoas mais assaltadas no
mundo são as que mais têm medo de ladrão, as pessoas mais estupradas do mundo
são as que têm muito medo de estupro, as pessoas as quais as baratas mais
visitam são as que têm fobia de barata. O medo atrai essas coisas todas, em
todas as dimensões.
Então (agora
não falando nem das baratas nem dos ratos, mas daquelas coisas grandiosas da
vida), quando eu busco o Senhor e vou me satisfazendo com a semelhança de Deus,
e vou contemplando Deus, e vou aprendendo a confiar em Deus, e vou aprendendo
como é e qual é o caráter de Deus, e vou, de fato, descansando em Deus, eu
estou fazendo um exercício de amor à vida. Pois quem é que pode viver bem na
vida cheia de medo? Que vida boa é essa vida apavorada, sempre dizendo: “ai,
meu Deus, já fecharam as portas? Fecha aquela cortina, apaga a luz! Quem será
aquele cara ali, que tá vindo pra cá?” – achando que isso é porque a vida é tão
boa que a gente tem que se precaver. Mas não é assim. Quem ama a vida e busca e
contempla Deus, e crê no caráter de Deus toma as providências que a gente toma,
a começar por não usar a língua para provocar o mal, a apartar-se do mal para
que ele não fique próximo de nós, a buscar a paz e empenhar-se por alcançá-la,
a buscar o Senhor, contemplá-lo, para que o nosso caráter se fortaleça na
confiança nele. Para que essa vida tenha qualidade. Pois que vida é essa que me
será prazerosa, se ela for cheia de medos, de temores e de fobias?
Então, quem
ama a vida quer uma vida que não seja pastoreada pelo medo. E quem quer uma
vida que não seja pastoreada pelo medo busca o Senhor, contempla o Senhor, se
satisfaz na confiança, na fé e no caráter de Deus, se molda em Deus, se deixa
forjar pelo mandamento de Deus para a vida, para as ações. E também entrega o
seu caminho ao Senhor, confia nele, sabendo que o mais ele fará. E ele te
livrará de todos os teus temores. E ele te salvará de todos os teus vexames.
Uma parte da
vida que ninguém quer lembrar é aquela dos vexames. Vocês já viram alguém que
ame a vida e adore um vexame? Vocês conhecem alguém que diga: “eu coleciono
vexames porque eu amo a vida”? Essa pessoa é suicida, quem busca vexames é um
ser que não tem autopreservação. Mas quem ama a vida foge de vexames. Quem ama
a vida também vai eliminando os seus temores, não coleciona temores, não se faz
colecionista de medos. E isso só é possível quando você busca a Deus, contempla
Deus, confia em Deus, vai se satisfazendo com a semelhança de Deus, vai
mergulhando nele de tal modo, que você sabe que tem de vigiar a cidade, mas que
estará fazendo isso em vão se, de fato, você não crer que o Senhor é aquele que
guarda a cidade; que você faz a sua parte, edifica a casa, mas você sabe que a
casa não estará completa se o Senhor não abençoar aqueles que a edificam, se o
Senhor não a edificar, se o Senhor não a construir, se o Senhor não a proteger.
Esse ama a vida. Esse guarda a sua língua. Esse busca realizar o que é bom.
Esse aparta-se do mal. Esse busca a paz e empenha-se por alcançá-la. Esse busca
a Deus e quer viver da contemplação de Deus de modo que dentro dele haja uma
paz como um rio, resultado da confiança que decorre da contemplação de Deus, de
saber que Deus é com ele, que Deus é por ele; e que se Deus é por nós, quem
será contra nós?
Esse tem
chance de todos os dias da sua vida viver para ver o bem. Esse não será
chamado, o tempo todo e toda hora, para explicar o que falou, e por que falou,
contra quem falou; esse controlar-se-á, esse eliminará, pela sabedoria, uma
quantidade enorme de dificuldades para viver. Esse viverá aquela vida que se
empenha e busca a paz em todos os seus relacionamentos, será um guerreiro da
paz. Esse não andará neurótico nem paranoico, porque busca o Senhor, e o Senhor
o livra dos seus temores; porque contempla Deus, discerne o caráter de Deus, o
amor de Deus, o cuidado de Deus, e o Senhor o livra de vexames.
Esse é
aquele acerca de quem minha avó insistia comigo para que eu soubesse desde
pequenininho (e que pela misericórdia dela eu não esqueci e jamais esquecerei);
e que diz: Clamou este aflito, e o Senhor o ouviu e o livrou de todas as suas
tribulações. O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. Oh!
Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.
Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão
abertos ao seu clamor. O rosto do Senhor está contra os que praticam o mal,
para lhes extirpar da terra a memória. Clamam os justos, e o Senhor os escuta e
os livra de todas as suas tribulações. Perto está o Senhor dos que têm o
coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. Muitas podem até ser as
aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra. Preserva-lhe os ossos. O
infortúnio matará o ímpio, e os que odeiam o justo serão condenados. O Senhor
resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam nenhum será condenado.
Pois se Deus é por mim, quem será contra mim? Pois já não há nenhuma condenação
para os que estão em Cristo Jesus, o nosso Senhor. Por isso eu bendirei ao
Senhor em todo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios.
Gloriar-se-á no Senhor a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão.
Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome. Em nome de
Jesus.
Quem é o
homem que ama a vida e quer viver vida longa para ver o bem? Vamos responder
isso com a nossa vida. É o que refreia a sua língua do mal e os seus lábios de
falarem dolosamente. É o que se aparta do mal e pratica o que é bom. É o que
procura a paz e empenha-se por alcançá-la. É o que busca o Senhor e nele
confia; e nele é acolhido, e o Senhor o livra dos seus medos. É o que contempla
Deus e
aprende a confiar no caráter de Deus; e assim ele é iluminado e, por isso, o
seu rosto não experimentará vexame. Ele sabe que o anjo do Senhor acampa-se ao
redor dos que o temem, e os livra. Ele é um bem-aventurado, porque no Senhor
ele se refugia. Ele sabe que os olhos do Senhor repousam sobre os justos e os
seus ouvidos estão abertos a todo clamor daquele que o busca. Que o rosto do
Senhor é contra os que praticam o mal, mas os justos clamam e o Senhor os
escuta e os livra de todas as suas tribulações. E que perto está o Senhor de
todo aquele que tem o coração quebrantado.
Que essa
seja a vida que nós queiramos viver, que esse seja o manifestar do nosso amor
pela vida. Quem ama a vida vive assim. Quem aborrece a vida vive contra isso,
apenas para ter uma existência triste, miserável, oprimida, patrocinadora de
maldades, de conflitos, de guerras, de malquerenças, de desentendimentos, de
explicações desnecessárias; e vai ficando perturbado, vai confiando cada vez
mais no que a sua malícia possa produzir; e
acaba neurótico e paranóico, cheio de vexames. Isto não é vida. A vida boa é aquela que se refreia de
patrocinar o mal, que se pronuncia para construir, para edificar, para
iluminar. É aquela que se aparta do mal e faz o que é bom, que busca a paz e
empenha-se por alcançá-la. É a vida daquele que busca a Deus e é iluminado, e
fica livre de todos os medos; que contempla o Senhor e é salvo dos vexames, e
sabe que o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra. Essa
vida é galardoada pela alegria, pela serenidade, pela tranquilidade e pela paz.
Quem vive
essa vida vai viver, tantos anos quantos Deus lhe dê, para ver a paz, para ver
o que é bom, e para regozijar-se em todo bem.
Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 22 de junho de 2012 às 11:22 e está arquivado em caio fábio,reflexões. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
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25 de junho de 2012 às 11:45
Muito Edificante e esclarecedor. Aleluia! Deus é Bom.
27 de junho de 2012 às 06:19
quem é que escreveu isso?
3 de agosto de 2012 às 19:58
Maravilhosa mensagem!