O CENTURIÃO E MELQUIZEDEQUE: UM ENCONTRO COM JESUS


Amar aos romanos nos dias de Jesus era considerado pecado em Israel. O que lá valia, especialmente na segunda parte, era: “Ama a teu próximo; e odeia ao teu inimigo”.


É obvio que havia romanos que se faziam amar, porém, declarar-lhes amor publicamente não era apropriado. 


Quando o Centurião Romano vem procurar Jesus e pede ajuda para o seu empregado, ouve Jesus se oferecer para ir até a casa dele. Ele porém, disse que não era digno daquela visita, e que sabia que sendo Jesus a Autoridade, bastava que Ele desse uma ordem, pela simples palavra, pois sabia que assim seu servo seria curado. E explicou que sabia que era assim em razão de que ele mesmo era homem que respondia com obediência aos seus superiores, e que também fazia sua autoridade valer em relação àqueles que lhe obedeciam, aos quais, ele, quando dizia, ‘vai’, a pessoa ia; quando dizia ‘vem’, a pessoa vinha; e quando dizia ‘faz’, feito seria. Desse modo, Ele diz: “Apenas ordena com tua palavra e o teu desejo se cumprirá, pois sei quem és; sei que tu és Autoridade”.


Quando Jesus ouviu o Capitão Romano dizer isto, entrou em estupefação de alegria. E exclamou: “Em todo Israel eu não encontrei ninguém com essa qualidade de fé”. E acrescentou: “Vai em paz; a tua fé te salvou; o teu servo está curado”.


Então, voltou-se para os que o circundavam, gente de todo tipo, indo de fariseus casca grossa, passando por gente da classe sacerdotal, atravessando escribas dedicados à exegese das Escrituras, perpassando revolucionários e fundamentalistas religiosos ou ideológicos; e, sobretudo, atingindo Seus discípulos e gente simples do povo—e lhes disse: Em verdade eu digo que muita gente virá do longínquo Oriente, e do distante Ocidente, do Norte, e do Sul, de toda a terra, e participará da mesa, da Festa, da Ceia, do Banquete do Reino, na companhia de Abraão, Isaque, e Jacó; enquanto muitos dos que se intitulam “filhos do Reino”, ficarão de fora.


Assim, o Centurião trás consigo a revelação da grandeza da fé simples que haveria de se mover em confiança estranha e inexplicável, a qual tomaria a consciência de muitos e muitos seres humanos, nos lugares mais diferentes da terra, os quais, experimentariam a bondade de Deus enquanto confessam sua indignidade, e, ao mesmo tempo, revelam do modo mais simples possível que crêem em Jesus.



O Centurião não ficou sabendo da trindade, da predestinação, do livre arbítrio, da santificação, das boas obras, da moral cristã, das devoções especiais, das frases de poder, dos dons especiais, da graça comum, ou da especial; do pecado original como conceito teológico; da fé como doutrina; da graça como teologia; do amor como mandamento; da igreja como ajuntamento; das Escrituras como livros inspirados; ou qualquer outra coisa.


Ele apenas recebeu a revelação de que Jesus podia. Ele creu. Ele discerniu o Nível de Autoridade com o qual ele dialogava. Ele simplificou tudo a partir de um entendimento que ele retirara do funcionamento da cadeia de comando dos romanos. Além disso, ele não tinha uma teologia do amor, ele de fato amava; e amava um servo. E nem tampouco tinha ele um arcabouço doutrinário acerca da justificação pela fé, ele apenas cria. Ele não sabia que Pessoa da Trindade Jesus era. Nem ainda ficou sabendo nada acerca do batismo, nem Jesus mandou que alguém fosse atrás dele ensinar isso ou aquilo. 


Não! Nem o homem sabia nada disso e nem Jesus mandou que alguém completasse a obra. O Homem veio, creu, viu, e se foi salvo e perdoado; além de encontrar seu servo curado. 


Já vi quem afirmasse que esse Centurião era também o mesmo que, ao lado da Cruz, disse: “Verdadeiramente este era Filho de Deus!” Mas fazer tal afirmação é uma violência dupla: primeiro em razão de que nada se diz nos evangelhos acerca de que este, seja aquele; e, mesmo que o fosse, se não se diz que era, é em si já o sinal e a declaração de que não tinha importância como informação que adicionasse significado ao que quer que seja. 


Jesus é proposital quando se surpreende com o Centurião, e declara isso; visto que aquilo que ali estava acontecendo era algo que seria o ‘arquétipo’ do tipo de gente e de fé que faria com que os judeus e líderes religiosos—gente que se sente secretariando Deus na terra—, caíssem seus queixos, quando vissem que esses outros, estranhos, eram gente do mesmo tipo de fé de Abrão, Isaque e Jacó; dos quais, jactavam-se eles, provinham seus genes biológicos, culturais, históricos, étnicos e raciais. 


Era como também se Jesus dissesse: “Abraão era assim. Não era mais sofisticado, nem mais refinado, nem mais instruído, nem mais doutrinado, nem mais educado do que este Centurião. Ele possui o mesmo tipo de fé de Abraão. Por isso, comerá do mesmo Pão Eterno de Abraão. Ele também é justificado pela fé. Ele confia como Abraão.”


Além disso, aqui também surge a imagem maravilhosa do Sumo Sacerdote Segundo a Ordem de Melquizedeque. Assim como Abrão curvou-se, pagou o dizimo, e foi abençoado por Melquizedeque, Rei de Salém—rei de paz—; de quem recebeu “pão e vinho”, e comeu; aparece aqui de modo não alegórico, e não simbólico, um “outro Abraão”, um estrangeiro, o Centurião. 


Desse modo, aqui também se expressa a imagem nítida Desse que é Sacerdote acima da religião, acima de Abraão, acima da própria seqüência histórica das informações da linhagem da salvação; e que é Aquele que abre a Porta do Reino para gente do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul; a partir de uma Ordem Sacerdotal superior e livre em relação à linhagem histórica de Abraão e seus descendentes; os quais eram também abençoados nesse Melquizedeque, Jesus; mas que não O continham; posto que Ele reina sobre eles e sobre todos.


Desse modo, esse Centurião é uma espécie de “Abraão Pagão”, e que aparece como figura e arquétipo do que a fé em Jesus significa, conforme Jesus mesmo, no que tange a salvar homens e mulheres que estão bem longe de todos aqueles que pretendem ser os “descendentes legítimos e genuínos” do que quer que seja, em relação a Deus na Terra: sejam os judeus; seja a “igreja”; seja a religião.


As similaridades são muitas entre Abraão e o Centurião. Abraão estava voltando da guerra, com despojos nas mãos, quando encontrou Melquizedeque. O Centurião vem a Jesus como homem de guerra, e usa analogias militares a fim de expressar seu discernimento espiritual. Abraão curva-se, reconhece a Autoridade, pede a benção, se serve da comida do sacerdote do Deus Altíssimo: pão e vinho. O Centurião curva a si mesmo e a qualquer outra Autoridade ante Aquele que pela Sua palavra construía mundos, e era capaz de dar ordens contra a morte e designar a permanência da vida. Abraão era ainda um estrangeiro naquela terra, e o mesmo se pode dizer do Centurião. Abraão intuía Quem era Melquizedeque, mas não sabia Quem ele era; porém, em seu coração, ele reconheceu Aquele que é antes de todas as coisas, e que é acima de todas elas: o Altíssimo. A fé do Centurião é carregada da mesma intensidade intuitiva. Ou seja: ambos tinham sido atingidos por uma revelação que estava para além da informação histórica; posto que nem um nem outro poderiam explicar qual fora o poder ou a consciência que os movera; mas apenas que haviam sido movidos pela revelação em fé. 


Mas crer em tal liberdade de Deus é insuportável para a Religião. Os “filhos do Reino” não suportam ver o Rei em liberdade total. Por isso a religião é sempre a tentativa de celebrar a um “Deus engaiolado” por doutrinas, formas, culturas, maneiras, morais, estéticas, etiquetas litúrgicas, e muitas outras coisas. 


Jesus está também advertindo que quem deseja prender Deus dentro, acaba fora! 


Assim, essa simples ocorrência de uma apenas aparente demonstração de misericórdia e poder, por parte de Jesus; e, do lado do Centurião, apenas uma santa credulidade; pela gravidade das aplicações das palavras de Jesus em relação ao acontecido, nos revela como essa narrativa é essencial no que diz respeito a nos ajudar a entender a obra do Espírito Santo no Planeta Terra, soprando onde quer e como quer.


Há muitos “centuriões” encontrando a Jesus enquanto os “filhos do Reino” discutem a qualidade doutrinaria da fé de tais pessoas; ou mesmo acerca de se sabem ou não sabem ‘o por quê’ de crerem. 


Enquanto isto, na surdina, a casa vai ficando cheia...; e, sem o perceberem, os “filhos do Reino” vão ficando de fora, crentes e presunçosos até o fim; sempre condenando os de fora; sem saber que eles, os de fora, já estavam dentro; e que eles sim, os de dentro, é que estavam muito, muito fora; e já por muito tempo.
Quem lê, entenda!




Nele,




Caio