Notícias da Nigéria

Hoje faz uma semana que chegamos à Nigéria.

Infelizmente tivemos um começo lento, porque o dinheiro de que precisávamos para dar início aos trabalhos chegou com cinco dias de atraso, devido a todas as dificuldades que temos tido não só para arrecadar os fundos para manutenção do projeto, mas, também, para fazer com que eles entrem na Nigéria, que é um país com sérias complicações bancárias.



Quando chegamos, a dispensa do nosso Centro Infantil “Factory of Hope” (Fábrica de Esperança) estava vazia e nosso time improvisava diariamente o que comprar e o que fazer. Nossas crianças tinham acabado de perder o primeiro dia de retorno às aulas porque ainda não havia chegado verba para pagar algumas taxas cobradas pela escola e nem para comprar complemento de uniforme e alguns materiais exigidos. Quando vimos que o dinheiro ainda não tinha data certa para chegar, pegamos um empréstimo no banco local para colocar a casa em ordem; assim, as crianças puderam ir para a escola a partir do segundo dia de aula.

Também encontramos sete das crianças resgatadas mais recentemente dormindo em colchões no chão. Precisamos comprar mais quatro beliches para que todos tenham sua cama. Cada beliche custa N25,000 (cerca de R$360,00, incluindo transporte). Se você puder nos ajudar a cobrir esse custo veja como contribuir no nosso site.



Ainda precisamos comprar mais mesas de plástico para que todas as crianças possam se sentar para juntas fazerem as refeições. Hoje muitas ainda se sentam no chão para se alimentar.
Também precisamos com urgência melhorar a cozinha, que está longe de ser razoável para um lugar que prepara refeições para quase 30 pessoas. Nesta semana preciso, inclusive, consertar o fogão – apenas uma das duas “bocas” está funcionando.
Nestes primeiros sete dias tivemos energia NEPA (Governo) por apenas dois dias; e com os dois geradores quebrados fica difícil fazer qualquer coisa. Ontem paguei N1500 para alugar uma bateria e ligar o gerador, pois queria inaugurar o liquidificador e fazer uma vitamina de banana para as crianças, que nunca beberam nada parecido. Foi muito gostoso vê-los experimentando algo pela primeira vez. Solicitei uma cotação para reparo de ambos os geradores: o grande e o pequeno, que fica de reserva. Com as peças que vamos precisar trocar e a mão de obra, o serviço ficará em torno de N20.000 (R$285,00). Se alguém também puder nos ajudar especificamente com isso, será maravilhoso.

Calculei também que para termos pelo menos cinco horas de energia à noite, usando os geradores, teremos que gastar em torno de N12,000 (R$170,00) por semana! Também vamos, definitivamente, precisar de ajuda nisso.



Hoje a Elzani está retornando à sua casa na Suíça. Ela nos ajudou muito, nestes dias! Junto da Mfon e das cuidadoras, ela organizou e distribuiu todas as roupas, sapatos, brinquedos e acessórios das dez bolsas que havíamos despachado da Inglaterra e que também chegaram um pouco tarde porque também não tínhamos a verba para pagamento do transporte de Lagos até Eket. Mas graças a Deus chegaram em tempo para que ela nos ajudasse nisso também, pois, de fato, era muito, muito trabalho. Cada uma de nossas crianças, que ainda só tinham duas ou três peças de roupa, ganhou pelo menos quatro ou cinco peças a mais, além de sapatos e brinquedos. A Elzani também trouxe presentes maravilhosos da Suíça, para as crianças, como, por exemplo, 20 pares de sapatos supercoloridos, que as enlouqueceram.

Ela também mostrou ter um coração supergeneroso, querendo abençoar todos que vinham lhe pedir dinheiro na rua, até perceber que abençoar todos seria uma missão impossível. Mas quando tivemos que nos apresentar no departamento de imigração de Eket (só Deus sabe por que temos que ir lá toda vez) e eles tentaram nos extorquir N20,000 (aproximadamente R$300,00), a Elzani ficou bem irritada e disse que preferia deixar o passaporte dela com eles, e que ela chamaria a embaixada da Suíça para resolver o caso. Depois de perdermos duas horas naquele escritório, com a ajuda da Diana saímos sem pagar a “taxa” que eles haviam acabado de inventar.

Hoje fomos contactados sobre mais um caso de criança rotulada de bruxa e abandonada em Oron. Vamos tentar localizá-la e resgatá-la. Mas, infelizmente, depois de atendermos a esse chamado sinto-me sinto forçado a suspender temporariamente as missões de resgate, devido às dificuldades financeiras que já temos tido para manutenção de nosso Centro Infantil.




Nesta semana, nosso pequeno Israel, também conhecido em nosso meio por “Ban Ki-moon”, foi empurrado na escola por uma criança, caiu e bateu a cabeça, o que causou um machucado bem preocupante em sua nuca. Evidentemente, com a urgência do caso precisamos levá-lo a um médico particular, tirar raio-x, etc, o que trouxe mais despesas não previstas. No dia seguinte pela manhã ele veio até a mim, tristinho, e abraçou a minha perna. Percebi que ele não estava mexendo o pescoço, e me abaixei para observá-lo melhor. Vi que ele tinha um enorme caroço no pescoço, logo abaixo da orelha, muito parecido com caxumba, e achei que seria muita falta de sorte dele ter aquele acidente e caxumba na mesma semana. Como não sabíamos se era algo relacionado com o acidente da nuca – que também estava superinchada –, tivemos que levá-lo novamente ao médico. Mas graças a Deus ele está se recuperando. De acordo com o médico, a infecção na ferida da cabeça pode ter desencadeado a caxumba. Ele agora está tomando antibióticos. Oremos para que ele fique bom rápido. Esse menino já sofreu tanto, pra tão pouca idade. Nós o resgatamos com aproximadamente três anos de idade, vivendo no meio do mato, comendo sabe lá o quê para sobreviver. Ele adora bater continência para tirar fotos; não sei com quem ele aprendeu isso, mas, de fato, ele é um guerreiro.

Como eles diriam no dialeto local: “Imemeh!” (Não é fácil!)

35 graus à sombra!

Eket, 09/05/14

Leo Santos