O fim do Exílio: operação Exodus iniciada!
25 de novembro de 2013
Postado por Marcello Cunha
Há dias não escrevo nenhuma nova informação sobre os
trabalhos no orfanato e procurei manter um precavido silêncio acerca de lá,
para muitos que estão acompanhando e dando suporte às nossas ações, pois se
encheriam de preocupação conosco.
Sim, saber de tudo o que se passou seria apenas
in-for-má-ação, com acento no á.
Mas agora é hora de informação sem acento. Porque agora é a
hora da verdade na vida de muitos pequeninos e precisamos mais do que nunca de
muito suporte.
O que se passa é que no orfanato que mais se parecia com um
Campo de Concentração continua ainda sendo um Campo de refugiados. O Orfanato
nos foi entregue à administração no que se refere ao cuidado das crianças
devido aos maus-tratos e o descaso do antigo administrador, que fazia delas apenas
modelos famintas de fotos para arrecadar dinheiro fora do país e investir em si
próprio, na construção de um hotel e nas roupas caras e de grife européia para
seus próprios filhos.
Apesar da considerável melhora que os voluntários do
Caminho-Nações promoveram em diversas iniciativas, que mudaram o ambiente,
proporcionaram alimentação adequada, colocou meninos na escola, cuidou da saúde
de muitos e muito mais, a ingerência do ex-administrador no orfanato sob a
nossa administração ficou insuportável.
Sim, pois ele é um homem corrupto que se autointitula Bispo e
que quebrou o contrato em tudo o que foi possível, além de ele próprio criar um
“apartheid” com crianças que ele considerava “mais bruxa que outras”,
ameaçando-as e tentando fazer com que nosso ambiente lá dentro fosse hostil,
para que talvez, desistíssemos.
Mal sabia ele que estamos aqui com a vida inteira à
disposição de entregá-la toda para os cuidados aos pequenos. Desistir não é uma
palavra que entendemos muito bem.
O Bispo não investiu em nada no orfanato com os milhões que
caíram em sua conta a não ser num “templo” que não é usado e num “Hotel” que
está construindo à beira da estrada, isso tudo, com muitas mentiras acerca de
estupros e sequestros, tendo as crianças como pano de fundo para a propaganda
do descaso que ele mesmo promove.
As fotos tinham endereço: Estados Unidos da América e Europa.
Muitas foram as contribuições ao orfanato que, desviadas,
chegavam ao hotel do Bispo através de um “Caixa 2″.
A nossa ideia ao saber disso tudo, seria em breve, conseguir
outro espaço para as crianças, um espaço sadio, onde pudéssemos dar à elas não
apenas Direitos Animais, mas humanos. Os direitos animais são aqueles que a
maioria dos animais procuram para a sobrevivência: água, comida e teto para se
proteger das mudanças climáticas e também a sua prole.
Direitos humanos é uma outra conversa.
Tudo está ao contrário, como cantou Cássia Eller, só que
aqui, alguém reparou.
Viemos para salvar crianças da estigmatização feita por
pastores evangélicos ligados à Teologia da Prosperidade.
Salvamos crianças do descaso no lugar que deveria ser de
cuidado e proteção.
Agora as salvaremos de serem alvos da fúria e do descaso de
um homem mal e assim, proporcionar-lhes futuro. Só assim será possível. Longe
de onde estão. Onde estão, por parte dele, sofrem um abandono assistido.
Os americanos que contribuíram financeiramente com o
ex-administrador nos procurou pois viram que havia outra administração no
orfanato. Foi aí que relatamos tudo e eles relataram quanto. E o “quanto”
deixou-nos perplexos na mesma proporção que o “tudo” deixou-os profundamente
decepcionados.
Sabendo de tudo isso, resolveram perguntar ao
ex-administrador sobre as, até então, “possíveis mentiras”. Vendo que a
história de muitas mentiras era verdade, decidiram cortar o investimento. Sobre
isso, seria preciso um livro para explicar todas as tramoias.
Aí o Bispo enfurecido, pediu ao segurança que me expulsasse
do orfanato, dizendo que não queria me ver ali, que estava chamando a polícia e
mais. O segurança me relatou isso tudo, mas muito inseguro, com a minha
insistência de continuar lá, me pediu quase implorando que era hora de partir.
Preocupadíssimo, pegando minha bagagem e ligando para meio mundo, me tirou de
lá naquilo que se pareceu uma cena de fuga nos filmes de ação, com as crianças
chorando, os vizinhos assustados, os cães latindo e uma garoa que dificultava a
caminhada pela estrada de terra.
Eu estava completamente em paz. Mas o segurança estava
alarmado com tudo aquilo. Depois eu soube que as frases do Bispo não tinha sido
exatamente um “vá embora, por favor”, mas algo do tipo “se ficar, morre”.
Então, os amigos nigerianos e a equipe não me permitiram
voltar.
Fiquei exilado.
Fiquei numa casa, escondidinho, proibido de ir à rua. Li
todos os livros que trouxe em 3 dias. Na segunda semana, sem energia, me
concentrei em meditar, ouvir os pássaros e até fazer exercícios no quarto para
não ficar travado.
Mas minha alma paulistana agitada me incomodou. Eu queria
fazer alguma coisa, mas com receio de fazer alguma coisa que colocasse tudo à
perder, respeitei o “tempo” que a equipe pediu para se organizar numa luta
judicial e entender todo o processo, priorizando o cuidado pelas crianças.
Assim decidi ficar quieto, não reportar isso ainda, mas que
iria para um hotelzinho onde teria o mínimo de energia para eu usar a internet
e tentar facilitar os processos dentro e fora da Nigéria e também em mim.
Noites insones de preocupação.
Tive mais pesadelos nestas duas semanas do que tive a minha
vida toda. Me passava pela cabeça o risco dos pequenos, ainda mais depois que
nossa diretora aqui recebeu um telefonema anônimo que dizia sobre ameaças do
Bispo à equipe.
Isso tudo para nos amedrontar.
E então, foram dias de muito trabalho fora do orfanato.
De raiva por não estar lá, peguei todos os funcionários do
hotelzinho de orelhada e falei tudo o que pude no meu inglês furréca contra a
bruxificação.
Fui visitar gente. Ouvir, falar, ouvir, falar, escrever,
ouvir, falar…
Os dias de exílio foram se tornando mais produtíveis.
Aí o Fábio chegou para me salvar do cansaço. O meu amigo me
fez companhia e juntos falamos contra a bruxificação para todos que
encontramos. O Fábio é daqueles caras que não perde a oportunidade de produzir
o bem, apesar de nós, como ele sempre diz.
Visitamos vilarejos, famílias, escolas, montamos uma cama
elástica na nossa base em Oron e ele cuidou com paciência e muita amizade do
amigo que veio para cuidar.
Ficamos tristes por não poder ir ao orfanato e ver as
crianças que ele ama, por conhecer a história, por ler, por ouvir sobre elas.
Mas foi muito legal ter o Fabião aqui.
O Léo chegou hoje. Juntos vamos começar a Operação Exodus, em
alusão à retirada do povo do Egito.
Queremos tirar TODAS as crianças das mãos deste homem e lutaremos
na justiça por isso, com muita documentação e toda a segurança, literalmente,
nos acompanhando.
Agora é hora de compartilhar. Pois mais do que nunca
precisaremos de suporte. De investimentos, de cuidados, de oração, de
paciência, de saúde, de milagres e milagres e milagres…
Se você se interessa por esses pequenos, peço por favor, que
seja parceiro nessa hora.
Não estamos aqui interessados em mais nada que não seja dar
vida a eles.
Sim, em abundância.
Esses contratempos, a gente sempre soube que ia acontecer.
Viemos para cá esperando todas as dores de cabeça pela frente para que
pudéssemos salvar os pequeninos do que quer que os oprima. Agora chegou a hora.
O Faraó está nervoso e temos um mar pela frente.
Queremos que o final desta história também seja de
libertação.
Gito Wendel
24 de Novembro de 2013 | Esit-Eket, Akwa Ibom, Nigeria
Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 25 de novembro de 2013 às 11:31 e está arquivado em caminho nações,nigéria,orfanato,pequeninos. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
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