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Há dias não escrevo nenhuma nova informação sobre os trabalhos no orfanato e procurei manter um precavido silêncio acerca de lá, para muitos que estão acompanhando e dando suporte às nossas ações, pois se encheriam de preocupação conosco.

Sim, saber de tudo o que se passou seria apenas in-for-má-ação, com acento no á.

Mas agora é hora de informação sem acento. Porque agora é a hora da verdade na vida de muitos pequeninos e precisamos mais do que nunca de muito suporte.

O que se passa é que no orfanato que mais se parecia com um Campo de Concentração continua ainda sendo um Campo de refugiados. O Orfanato nos foi entregue à administração no que se refere ao cuidado das crianças devido aos maus-tratos e o descaso do antigo administrador, que fazia delas apenas modelos famintas de fotos para arrecadar dinheiro fora do país e investir em si próprio, na construção de um hotel e nas roupas caras e de grife européia para seus próprios filhos.

Apesar da considerável melhora que os voluntários do Caminho-Nações promoveram em diversas iniciativas, que mudaram o ambiente, proporcionaram alimentação adequada, colocou meninos na escola, cuidou da saúde de muitos e muito mais, a ingerência do ex-administrador no orfanato sob a nossa administração ficou insuportável.

Sim, pois ele é um homem corrupto que se autointitula Bispo e que quebrou o contrato em tudo o que foi possível, além de ele próprio criar um “apartheid” com crianças que ele considerava “mais bruxa que outras”, ameaçando-as e tentando fazer com que nosso ambiente lá dentro fosse hostil, para que talvez, desistíssemos.

Mal sabia ele que estamos aqui com a vida inteira à disposição de entregá-la toda para os cuidados aos pequenos. Desistir não é uma palavra que entendemos muito bem.

O Bispo não investiu em nada no orfanato com os milhões que caíram em sua conta a não ser num “templo” que não é usado e num “Hotel” que está construindo à beira da estrada, isso tudo, com muitas mentiras acerca de estupros e sequestros, tendo as crianças como pano de fundo para a propaganda do descaso que ele mesmo promove.

As fotos tinham endereço: Estados Unidos da América e Europa.

Muitas foram as contribuições ao orfanato que, desviadas, chegavam ao hotel do Bispo através de um “Caixa 2″.

A nossa ideia ao saber disso tudo, seria em breve, conseguir outro espaço para as crianças, um espaço sadio, onde pudéssemos dar à elas não apenas Direitos Animais, mas humanos. Os direitos animais são aqueles que a maioria dos animais procuram para a sobrevivência: água, comida e teto para se proteger das mudanças climáticas e também a sua prole.

Direitos humanos é uma outra conversa.

Tudo está ao contrário, como cantou Cássia Eller, só que aqui, alguém reparou.

Viemos para salvar crianças da estigmatização feita por pastores evangélicos ligados à Teologia da Prosperidade.

Salvamos crianças do descaso no lugar que deveria ser de cuidado e proteção.

Agora as salvaremos de serem alvos da fúria e do descaso de um homem mal e assim, proporcionar-lhes futuro. Só assim será possível. Longe de onde estão. Onde estão, por parte dele, sofrem um abandono assistido.

Os americanos que contribuíram financeiramente com o ex-administrador nos procurou pois viram que havia outra administração no orfanato. Foi aí que relatamos tudo e eles relataram quanto. E o “quanto” deixou-nos perplexos na mesma proporção que o “tudo” deixou-os profundamente decepcionados.

Sabendo de tudo isso, resolveram perguntar ao ex-administrador sobre as, até então, “possíveis mentiras”. Vendo que a história de muitas mentiras era verdade, decidiram cortar o investimento. Sobre isso, seria preciso um livro para explicar todas as tramoias.

Aí o Bispo enfurecido, pediu ao segurança que me expulsasse do orfanato, dizendo que não queria me ver ali, que estava chamando a polícia e mais. O segurança me relatou isso tudo, mas muito inseguro, com a minha insistência de continuar lá, me pediu quase implorando que era hora de partir. Preocupadíssimo, pegando minha bagagem e ligando para meio mundo, me tirou de lá naquilo que se pareceu uma cena de fuga nos filmes de ação, com as crianças chorando, os vizinhos assustados, os cães latindo e uma garoa que dificultava a caminhada pela estrada de terra.

Eu estava completamente em paz. Mas o segurança estava alarmado com tudo aquilo. Depois eu soube que as frases do Bispo não tinha sido exatamente um “vá embora, por favor”, mas algo do tipo “se ficar, morre”.

Então, os amigos nigerianos e a equipe não me permitiram voltar.

Fiquei exilado.

Fiquei numa casa, escondidinho, proibido de ir à rua. Li todos os livros que trouxe em 3 dias. Na segunda semana, sem energia, me concentrei em meditar, ouvir os pássaros e até fazer exercícios no quarto para não ficar travado.

Mas minha alma paulistana agitada me incomodou. Eu queria fazer alguma coisa, mas com receio de fazer alguma coisa que colocasse tudo à perder, respeitei o “tempo” que a equipe pediu para se organizar numa luta judicial e entender todo o processo, priorizando o cuidado pelas crianças.

Assim decidi ficar quieto, não reportar isso ainda, mas que iria para um hotelzinho onde teria o mínimo de energia para eu usar a internet e tentar facilitar os processos dentro e fora da Nigéria e também em mim.

Noites insones de preocupação.

Tive mais pesadelos nestas duas semanas do que tive a minha vida toda. Me passava pela cabeça o risco dos pequenos, ainda mais depois que nossa diretora aqui recebeu um telefonema anônimo que dizia sobre ameaças do Bispo à equipe.

Isso tudo para nos amedrontar.

E então, foram dias de muito trabalho fora do orfanato.

De raiva por não estar lá, peguei todos os funcionários do hotelzinho de orelhada e falei tudo o que pude no meu inglês furréca contra a bruxificação.

Fui visitar gente. Ouvir, falar, ouvir, falar, escrever, ouvir, falar…

Os dias de exílio foram se tornando mais produtíveis.

Aí o Fábio chegou para me salvar do cansaço. O meu amigo me fez companhia e juntos falamos contra a bruxificação para todos que encontramos. O Fábio é daqueles caras que não perde a oportunidade de produzir o bem, apesar de nós, como ele sempre diz.

Visitamos vilarejos, famílias, escolas, montamos uma cama elástica na nossa base em Oron e ele cuidou com paciência e muita amizade do amigo que veio para cuidar.

Ficamos tristes por não poder ir ao orfanato e ver as crianças que ele ama, por conhecer a história, por ler, por ouvir sobre elas. Mas foi muito legal ter o Fabião aqui.

O Léo chegou hoje. Juntos vamos começar a Operação Exodus, em alusão à retirada do povo do Egito.

Queremos tirar TODAS as crianças das mãos deste homem e lutaremos na justiça por isso, com muita documentação e toda a segurança, literalmente, nos acompanhando.

Agora é hora de compartilhar. Pois mais do que nunca precisaremos de suporte. De investimentos, de cuidados, de oração, de paciência, de saúde, de milagres e milagres e milagres…

Se você se interessa por esses pequenos, peço por favor, que seja parceiro nessa hora.

Não estamos aqui interessados em mais nada que não seja dar vida a eles.

Sim, em abundância.

Esses contratempos, a gente sempre soube que ia acontecer. Viemos para cá esperando todas as dores de cabeça pela frente para que pudéssemos salvar os pequeninos do que quer que os oprima. Agora chegou a hora.

O Faraó está nervoso e temos um mar pela frente.

Queremos que o final desta história também seja de libertação.

Gito Wendel

24 de Novembro de 2013 | Esit-Eket, Akwa Ibom, Nigeria