TATYANA JORGE: A NIGÉRIA, A URBANIDADE, O VELHO SÁBIO, OS BRASILEIROS MALUCOS E O MEU CONTÁGIO DE FÉ.
28 de julho de 2013
Postado por Marcello Cunha
PROJETO OÁSIS NO DESERTO -
JULHO 2013
RELATOS DA JORNALISTA TATYANA
JORGE
A NIGÉRIA, A URBANIDADE, O
VELHO SÁBIO, OS BRASILEIROS MALUCOS E O MEU CONTÁGIO DE FÉ.
"Fiquei emocionada com a
maneira como aquele homem acredita que o povo dele pode e vai ser mais feliz. E
me dei conta que aqueles brasileiros "malucos" só tinham largado suas
famílias e ido parar na África, porque compartilhavam da mesma crença. Naquele
momento, passei a acreditar também."
Se há um país onde vivem
Anjos, este país é a Nigéria. Aliás, ali deve ficar a Sede da Associação
Internacional dos Anjos. E como eles têm trabalho para cuidar das pessoas!
Acredito que façam hora extra todos os dias. E explico a razão.
Primeiro o trânsito é caótico.
Andar de carro lá, só com "muita emoção", como costumamos brincar. As ruas, avenidas e estradas são completamente esburacadas. E quando digo completamente é porque há mais trechos com buracos do que lisos. E cada cratera... Isso quando o lugar é asfaltado, o que é um luxo. A situação é pior no interior. A noite, então, não há iluminação alguma. E como os veículos são muito sucateados, as vezes nem farol têm. Faixas de sinalização eu não vi nenhuma, e acredito que eles aprendam na auto escola ( será que existe isso lá?) a dirigir na contramão em alta velocidade.
Andar de carro lá, só com "muita emoção", como costumamos brincar. As ruas, avenidas e estradas são completamente esburacadas. E quando digo completamente é porque há mais trechos com buracos do que lisos. E cada cratera... Isso quando o lugar é asfaltado, o que é um luxo. A situação é pior no interior. A noite, então, não há iluminação alguma. E como os veículos são muito sucateados, as vezes nem farol têm. Faixas de sinalização eu não vi nenhuma, e acredito que eles aprendam na auto escola ( será que existe isso lá?) a dirigir na contramão em alta velocidade.
Fora as motos. Cinco, seis
pessoas em cada uma. Isso é normal, assim como não usar capacetes. Acredito até
que eles nunca foram apresentados a um. Houve um
momento em que os carros
estavam lotados, e eu logo me candidatei para ir de moto com outras duas
pessoas. ( Só três, em uma motocicleta. Para eles estava sobrando espaço.) E
foi uma experiência muito boa. Não sei como o piloto conseguia enxergar alguma
coisa no meio da escuridão, eu tentava, mas me parecia impossível. Em
compensação, as estrela brilhavam forte no céu, assim como uma lua que parecia
tirada de alguma pintura.
Quem pilotava não cansava de
se desculpar pelos inúmeros e profundos buracos. E eu só pensava: " Esse
cara é fera. A gente nem caiu ainda".
Sim, vimos de perto um
acidente envolvendo duas motos. A passageira de uma delas teve um ferimento
leve no joelho, e eu só tinha as mãos um curativo, que ofereci e que ela
aceitou toda agradecida. Mas pelo homem que pilotava a outra moto, eu não pude
fazer nada. Ele estava todo machucado, com o rosto em carne viva. E o que todo
brasileiro pensaria nesta hora? Chama a ambulância! Pois bem, aqui neste país
você só tem socorro se pagar por ele. E o homem continuou lá sem que
soubéssemos o que fazer. Nem ele sabia. Foi quando outros nigerianos se
aproximaram para ajudar.
Já de volta ao carro, Michael,
um rapaz nascido na Nigéria, que vez ou outra auxilia os voluntários, ficou
espantado quando dissemos que no Brasil o homem machucado teria socorro de
graça. Queria saber quem pagava por isso. E Tiago, um dos voluntários, explicou
que é o governo. "E de onde vem o dinheiro?",questionou o jovem
africano. "Dos impostos. Quase 5 meses, do que trabalhamos por ano, são
pagos em impostos ao governo", o brasileiro explicou.
"Quase o mesmo que o
pastor cobra dos pais para que as crianças deixem de ser bruxas", destacou
Michael. Eu não tinha me dado conta disso...
Com este trânsito para lá de
confuso, com gente grande que acredita em crianças bruxas, com assassinatos e
torturas, dá para entender porque os anjos têm muito trabalho por aqui.
E vez ou outra encontramos um
de carne e osso, ajudando aquela gente que tanto precisa. E neste momento me
preparo para contar a história de Mister Medekong, o chief (chefe) da região de
Oron. Os chiefs são líderes de determinadas áreas. Para tocar o coração de uma
comunidade, é preciso antes tocar os deles. Se vestem com uma roupa pomposa, e
suas opiniões são muito valorizadas e respeitadas. Alguns aproveitam disso em
seu favor, mas Mister Medekong é um exemplo de bondade.
Os voluntários o conheceram
quando ajudavam alguém em Oron e descobriram que ele também era contra a idéia
de crianças serem consideradas bruxas.
Fomos então fazer uma visita a
este homem de quem eu tanto já tinha ouvido falar bem. Os voluntários entraram
na casa dele com a reverência de quem logo estaria diante de um sábio. E
minutos depois, quando Mister Medekong entrou na sala, se sentou e começou a
falar, percebi que os brasileiros tinham toda razão. Eu estava mesmo diante de
um anjo- humano, que nada mais fez do que falar das preocupações com sua gente.
Aliás, é dele uma frase recorrente. "Sejam pacientes com meu povo",
diz sempre que alguma situação indigna os brasileiros, e com aquele jeitinho,
ele consegue melhorar a vida dos seus.
O corpo mais franzino do que
nas fotos nas prateleiras mostrava que a pneumonia estava maltratando aquele
senhor de mais de 70 anos. Um ancião, já que a expectativa de vida da Nigéria é
de 47 anos.
Fiquei emocionada com a
maneira como aquele homem acredita que o povo dele pode e vai ser mais feliz. E
me dei conta que aqueles brasileiros "malucos" só tinham largado suas
famílias e ido parar na África, porque compartilhavam da mesma crença. Naquele
momento, passei a acreditar também.
Tatyana Jorge - Jornalista da
TV Tribuna, integrante da Expedição Oásis no Deserto - Caminho Naçoes.
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