A NIGÉRIA É AQUI...
Cláudio Vitoriano
28 de Outubro de 2010

As histórias e narrativas que acompanhei a não muito tempo atrás, me revelaram a triste realidade de uma ordem religiosa que massacra e escraviza aqueles que deveriam ser cuidados e amados pelo simples fato de serem crianças.


Sim, o Dossiê Nigéria - tão conhecido pelos do Caminho da Graça - trouxe a todos a evidência de que a loucura religiosa permite os atos mais cruéis e insanos que um ser humano é capaz de impor aos seus semelhantes (E não precisa ser "muçulmano" para isso...).

Como muitos, chorei, me revoltei, orei e procurei saber mais... Quanta tristeza e dor! Como era possível em nome de uma absurda autoridade divina, estripar e esfolar aqueles de deveriam receber toda a proteção do mundo?

Lembro-me da primeira vez que ouvi falar sobre o jovem nigeriano acorrentado numa grande igreja africana. Adailton nos falou no Caminho da Graça em São Paulo, numa noite difícil de esquecer...

Todos ouviram o triste relato acerca de um jovem que, acusado de ser possesso, fora acorrentado a uma pilastra e passava seus dias algemado aos pilares do templo esperando por uma libertação espiritual. 

Refletindo sobre tudo aquilo que nos era apresentado, ficava a terrível sensação de impotência e se aquilo tudo um dia poderia chegar até nós.

E chegou.

Hoje pela manhã ao abrir um jornal de grande circulação aqui em São Paulo, deparei-me com a foto de capa que me levou de volta ao continente africano. Dessa vez não era a Nigéria, agora era a Zona Sul de São Paulo.

Os mesmos personagens, as mesmas correntes, as mesmas paredes evangélicas.

O jovem Antônio, esquizofrênico, sem recursos e sem apoio das autoridades. Escravizado por suas doenças e pela manchete do jornal.

Sabedor de nossa péssima saúde pública e todas a mazelas políticas que tanto afligem os menos favorecidos, me perguntei por que acorrentado justamente a uma igreja, lugar de sua pretensa libertação?

A loucura só está começando...

Impossível não lembrar do sofrimento dos pequeninos da Nigéria.
Impossível não lembrar daquele jovem nigeriano.
Impossível não fazer nada ao ver o nome de Jesus justificando cadeias...

Que o Príncipe da Paz nos dê sabedoria e nos torne cada vez mais sensíveis ao sofrimento daqueles que hoje padecem na loucura, na maldade, na dor  e na insensatez religiosa que estão cada vez mais presentes às margens daquilo que chamamos de caminhada da vida.


Cláudio Vitoriano
Caminho da Graça | Estação ABC Paulista

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Fonte: Jornal Agora – São Paulo
Foto: Almeida Rocha | Folhapress