Definitivamente, Jesus é um tipo de referência que jamais poderia ser usado como ícone que represente sucesso humano.
Pelo menos, ninguém que seja minimamente inteligente, leia os Evangelhos e conheça as profecias antigas, consegue associar Jesus e o sucesso humano.

O antigo profeta Isaías dizia sobre Jesus: "Quem vai acreditar que Ele é quem é? Não possui agradabilidade estética e não causa aceitabilidade natural, moral e intelectual. Quem será capaz de crêr nessa pregação? Pelo contrário. Os homens abanarão as cabeças e dirão: "Ali vai um coitado, ferido pelo juízo de Deus e atormentado".

Somente esta profecia já mata qualquer expectativa mais excitgada sobre a glória humana e o sucesso do ministério de Jesus entre os homens.

O Evangelho de João, todavia, já inicia despudoradamente expondo a mesma condição de insucesso:

"10  O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.
11  Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12  Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;
13  os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
14  E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai
".

 Portanto, em Jesus se manifesta uma dualidade interessante:

De um lado, uma coisa sem sucesso humano, que ninguém quer, e quando quer, quer apenas com interesse aproveitador.
De outro lado, há uma glória do Pai ali, que ainda que poucos queiram, é aquilo que É, e Sendo, desconsidera humilde e totalmente os aplausos do mundo.

O resultado disto é uma dor que transpassa a alma. Uma certa solidão... Uma certa angústia e um certo choro pra ser chorado.

"Ah! Quantas vezes eu tentei, mas não tive sucesso. Vocês não se interessaram. De fato, não quiseram".

Mas não foi somente a grande multidão que não quis.

Jesus, por seu turno, também não quis.

Digo: Ele não barganhou com o sucesso, não aceitou estratégias, não fez acordos com a Verdade, não negociou com o príncipe deste mundo.

Jesus não quis, quando comprou brigas com os poderosos da religião. Provocando antipatias mortais.
Jesus não quis, quando enviou pra casa aquela multidão que o buscava querendo mais pão multiplicado, dizendo a Ele que eles estavam dispostos a colocá-lo no mesmo pedestal de Moisés, o maior profeta, se Ele apenas continuasse a dar-lhes pão, como Moisés deu "pão do céu" ao povo, no deserto.

Ao que Jesus responde antipaticamente: "Primeira coisa: não foi Moisés quem deu pão aos vossos antepassados. Foi meu Pai! Segunda coisa: Eu sou o Pão que desceu do céu, portanto, tenham fome de mim e não do que vocês podem aproveitar de mim".

E diz o Evangelho que os homens disseram: "O que tu nos dizes é insuportável!"

E se diz mais: "A partir daquele momento muitos discípulos já não andavam mais com Ele".

Se por um lado, "eles não quiseram", por outro lado, Jesus também não quis nada que fosse um acordo em prol do sucesso. Só valia se fosse uma associação em prol da Verdade.

O decorrer da vida vai manifestando um caminho de estreiteza e isolamento mais e mais acentuado.

Restam somente os doze, e mais alguns outros e outras periféricos.
Dos doze, um trai.
Dos onze, ninguém consegue orar junto com ele no momento de fraqueza e suor de sangue.
E na hora do "pega" não sobra ninguém.
Sendo que Pedro, outrora tão envolvido na causa e empolgado, é capaz de dizer com todas as letras, decepcionado com  apatia de Jesus, revoltado por Jesus não usar seu poder para tomar o trono de Jerusalém e cheio de medo de ainda morrer por aquela coisa toda sem sentido: "Jamais conheci este homem! Não sei quem ele é!"

Jesus porém, não foi pego de surpresa. Ele mesmo já havia dito a Pedro: "Amigo, eu orei por ti, pra que a tua fé não desfaleça. Pois satanás resolveu te experimentar até as últimas consequências a fim de ver do que você é feito".

Aos discípulos todos, Ele também já havia prevenido: "Vocês todos se dispersarão e eu ficarei só. Mas não temam, estou dizendo tudo isto antecipadamente pra que quando chegar a hora vocês tenham paz em mim, saibam que toda esta condição já estava nos meus cálculos".

Na cruz, ele está sozinho. Ao lado de dois "colegas" malfeitores também condenados.

Ele todavia, enfrenta tudo isso não chocado, não escandalizado, não surpreso, não contrariado, não com qualquer desilusão e chateação.

Ele sabe que assim é. De fato, o homem natural não aceita as coisas do Espírito. E só os bem bobinhos e confusos acham que o Evangelho é algo que provoque interesse no senso estético e psicológico humano. Jamais!

Só parece provocar interesse quando discípulos confusos criam um híbrido do evangelho, a fim de agradarem a multidão, não sucumbirem à solidão, não sofrerem a rejeição e não tomarem cada um sua cruz, conforme Jesus.

Mas enquanto o Evangelho é Evangelho a dualidade sempre será esta: de um lado a glória do Pai dispensada cheia de Graça e Verdade. De outro lado, a rejeição, a solidão, a antipatia, a ofensa, a acusação, o desprezo, a falência e o insucesso perante os olhos dos homens.

"Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus. A saber: os que creram na pregação".

A alegria de Jesus está todinha nesses "quantos". Por isto, ele não se tara naqueles sobre os quais se diz: "Veio para os que eram seus".

O Príncipe da Paz não se tara e não se torna Leão rondando ao derredor, procurando alguém que possa convencer na marra.

Jesus mostra que não se tara, ao dizer aos discípulos: "Quando vocês chegarem numa cidade e eles não receberem a paz de vocês, saiam, não insistam. Vão pra outra!"

Ensinando aos discípulos, Jesus também já dissera: "Ainda tenho muitas ovelhas em outros rebanhos. Convém que eu vá até elas e elas também ouvirão a minha voz, me reconherão e me seguirão. Um dia todos esses rebanhos estarão reunidos, e haverá um só rebanho e um só Pastor".

Quando Jesus ressuscita dos mortos e está prestes a subir aos céus, diz aos discípulos: "Vão! Anunciem o Evangelho até os confins da terra! Indo, preguem a Boa Nova".

Jesus não se tara sobre aqueles que "não quiseram". Ele segue o seu caminho, na expectativa da Alegria que virá por aqueles que quererão.

Assim como na cruz foram expostos ao desprezo os principados e potestades, e cravados nela... Toda ambição de sucesso também foi.

Sucesso, pra Jesus, é experimentar as surpresas da Graça de Deus fazendo seus milagres em coraçõezinhos de pequeninos humanos. Tomando-os de dentro pra fora.

Assim, a premissa é: "Quem crerá na pregação? Difícil... talvez ninguém! Eles não receberão...".

E a alegria é, de repente, ver um aqui, outro ali... abraçando a Palavra, dizendo amém à loucura, caminhando pro abraço, testemunhando a respeito do fracassado e falido: "Nós vimos  a sua glória, e a glória era a do Unigênito do Pai, cheio de Graça, e todinho Verdade".

Por isto, o lamento de Jesus sobre Jerusalém não é lamento de um ser contrariado e com complexo de abandono e incapacidade confusa. Ao invés disto, é firmeza de conceito dAquele que diz: "Eu não adulterarei a Verdade jamais. Serei fiel ao Pai e a vocês. Vocês só sairão desta solidão, desta orfandade e desta escuridão de consciência, no dia que vocês enfim conseguirem dizer:  "Bendito é o que vem em nome do Eterno". Não tenho acordos e barganhas quaisquer a fazer com vocês.

E você, meu irmão? O bendito insucesso do Evangelho tem se manifestado em você?
Ou você já corrompeu o Evangelho para andar em glória e sucesso humano?

Neste dia eu oro por você, que sinceramente vem caminhando dolorido e se perguntando: "Será que eu estou fazendo alguma coisa errada, ou sendo incapaz para a tarefa?".

Dizer a você que apenas olhe pro Mestre. E nEle encontre sabedoria, referência, consolo e bem-aventurança.

Paz seja convosco!

Marcello Cunha