DOSSIÊ DE 1998: A história conta sua própria história hoje
29 de novembro de 2011
Postado por Unknown
* O texto abaixo foi escrito em 2006
DOSSIÊ DE 1998: A HISTÓRIA CONTA SUA PRÓPRIA HISTÓRIA HOJE
DOSSIÊ DE 1998: A HISTÓRIA CONTA SUA PRÓPRIA HISTÓRIA HOJE
O material que segue é o resultado de textos
escritos por mim aqui no site desde 2004, bem como de uma entrevista concedida
por mim ao repórter Ricardo Muniz em 22 de março de 2006 — e que pode ser lida
no site http://www.comtudo.com.br/materia.php?id=38
O mais foi apenas uma atualização feita por mim no dia de hoje, após ler os jornais do dia*.
Não há aqui nenhuma intenção além daquela que
deseja que todas as informações espúrias e truncadas relacionadas à minha
pessoa, concernentemente ao chamado Dossiê Cayman, sejam clarificadas pelos
próprios fatos históricos hoje incontestáveis.
Com temor, tremor e oração,
Caio
------------------------------------------------------
Li os jornais de hoje e o que vi me foi mais que familiar. Em maio ou junho de 1998, o então candidato Lula, acompanhado de Leonel Brizola, Benedita da Silva, Garotinho, Saturnino Braga, e muitos outros membros da coalizão PT-PDT, visitaram a Fábrica de Esperança — à época, ponto obrigatório de visitas de todos os que desejam expressar genuínas preocupações sociais.
...
Nunca havia me envolvido com nada de natureza
político partidária. Todos os que trabalharam comigo podem testemunhar o
assédio que sofria para ser candidato a quase tudo e minhas ostensivas recusas
— candidato a Prefeito e Governador do Rio; Senador; Vice-Presidente; e ainda
houve loucos que, à revelia, lançaram meu nome à Presidência. Nunca nem de
longe desejei qualquer dessas coisas. Todos sabem.
No curso dos anos, todavia, fiz amizades em
todos os partidos. E tinha transito livre entre seus líderes. Embora, jamais
tenha me aproximado de pessoas como Maluf, Quércia, ACM — e gente do mesmo
perfil.
...
No PT meu relacionamento era principalmente com
Benedita da Silva, de quem fui amigo por uns 20 anos, e a quem casei com
Pitanga. Também a levei a ser membro da Igreja Presbiteriana Betânia
(juntamente com Garotinho) — em razão de que a Assembleia de Deus queria
discipliná-la por estar casando com “um ímpio” — no caso, com o Pitanga.
...
O Lula veio bem depois. Foi quando me ouviu
fazer uma palestra no Auditório Petrônio Portela, no Senado. Daí para frente me
procurou, e tivemos muitas conversas, a maioria das quais sobre o Evangelho e
sobre o fenômeno evangélico. Lula queria saber por que era tão hostilizado no
meio. Eu expliquei a ele como era o meio e porque o odiavam tanto. Hoje as Assembleias
de Deus o incensam; bem como a Universal; sempre que há necessidade; ou quando veem
que a vitória se define ao lado dele — como o fazem em relação a qualquer um
que chegue ao poder.
...
Na década de 90, entretanto, eu tinha o
“status” de ser o líder evangélico respeitado por todos no País. Em razão de
minhas opiniões francas sobre tudo, bem como pela criação da Fábrica de
Esperança (à época considerado o maior projeto não governamental da América
Latina) — eu era incensado pela mídia, bem como me acostumei a receber visitas
ilustres todos os dias. O próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso escolheu
a Fábrica de Esperança para ser seu primeiro lugar de visita após a sua
primeira eleição.
Tudo isto, todavia, veio a ruir quando Lula e
seu séquito chegaram à Fábrica naquela manhã de maio ou junho de 1998, durante
a campanha presidencial...
Hoje digo: “Graças a Deus!”
...
Como já disse aqui no site, tive um
relacionamento de alguns anos com o Lula. E tudo começou pouco depois da
derrota para Collor, com a Igreja Universal colocando ele de chifre, rabo e
tridente na mão.
...
Fiquei sabendo da história do suposto Dossiê
Cayman em 1997, na Florida, num fim de tarde, em conversa com um amigo. Mas me
mantive em absoluto silêncio. Não contei nada para ninguém. Afinal, vivo de
ouvir histórias há anos. Se eu começar a abrir a boca, milhares de casamentos
acabam na mesma hora, um monte de líder evangélico cai dos seus troninhos e um
monte de político se arrebenta. Sou pastor, não promotor de justiça.
...
Voltando a 1998.
Naquele dia da fatídica visita de Lula e seu séquito
à Fábrica, também apareceu lá, sem aviso prévio, o amigo que me contara a
história na Florida. Ele sempre me dissera que conhecia Lula desde há muito, e
que haviam trabalhado juntos no sindicato. Quando se encontraram abraçaram-se
como velhos amigos.
...
Sendo mais detalhado, quero dizer, diante de
Deus, que nunca vi nada do tal Dossiê, exceto uma “amostra” de como seria, se
de fato existisse. Entretanto, nunca tive interesse em saber de coisa alguma. Tanto
é que fiquei calado.
...
Como já disse, havia sido informado na Flórida
acerca das supostas contas. Na realidade esse amigo me contou algo que ouvira
de outra pessoa, o senhor Oscar de Barros, que seria a pessoa, juntamente com
seu então sócio José Ferraz — que saberiam dos supostos detentores da tal
documentação.
À época eu não sabia nem mesmo porque aquilo
me estava sendo contado (1997). Foram José Ferraz e Oscar de Barros que me
disseram que aquilo mudaria a história do Brasil, mas que era uma pena que os
supostos detentores dos documentos desejavam dinheiro para transferir a
informação.
Ouvi e esqueci do assunto por quase um ano.
De volta a 1998...
Depois da visita oficial à Fábrica e da
gravação de um programa com Lula e Brizola na Vinde TV (que ficava no 5º andar
da Fábrica) — eu me retirei para ir ao toalete em minha sala, no 6º andar.
À saída do toalete esse amigo comum me abordou
na ante-sala, e me disse o seguinte: “Reverendo, eu não disse pro senhor que é
todo mundo igual? Contei aquela história pra ele e ele está louco atrás
daquilo”.
Quando entrei na sala encontrei Lula agitado,
andando de um lado para o outro. Ao ver-me foi logo disparando: “Como você não
me conta uma coisa dessas?” Disse isto com aquele risinho maroto que ele sabe
fazer.
Ora, eu disse a ele que não tinha nada a ver
com aquilo, e que a pessoa que me reportara os supostos fatos era a mesma que
estava diante dele, e que ele próprio ouvira a história do senhor Oscar de
Barros. Portanto, que se ele e o PT desejassem saber, que eles próprios fossem
à fonte; mas não eu.
Daquela noite em diante não tive mais paz.
Benedita me ligou perguntando como eu podia ser amigo dela e não ter falado
nada por tanto tempo. E disse que o Lulinha havia contado a ela. Fiquei apavorado.
Ela me cobrava um tipo de ação na revelação dos supostos fatos. Tudo em nome da
amizade por ela e por Lula. E mais: pelo futuro do Brasil.
Enfim, daquele dia em diante foram ligações
diárias. Bené implorava que eu ajudasse ao Lulinha. Até mesmo o Zé Dirceu veio
ao Rio conversar comigo (afora várias conversas telefônicas).
Minha tese era uma só: “Se vocês querem isto,
falem com quem me contou (Oscar de Barros e José Ferraz); pois eu mesmo nada
sei além do que já foi dito”.
Mas eles tanto cobravam uma solução, como
pediam que eu fosse e descobrisse. Alegavam que minha idoneidade daria crédito
aos supostos fatos. Enquanto isto eu não apenas dizia que não queria me
envolver, como também dizia que não fora chamado por Deus para aquele tipo de
coisa. Sem falar que em meu coração só havia gratidão para com o presidente
Fernando Henrique, como também para com D. Ruth, parceiros da Fábrica de
Esperança.
O resto Deus sabe. Depois de não mais do que
um mês eu já estava envolvido. E agora também cobrado por Oscar de Barros e
José Ferraz, que diziam: “Como é, reverendo? Esses seus amigos vão ou não
aparecer aqui?”. Então a pressão diária vinha dos dois lados. Chegaram a propor
que eu levantasse o dinheiro, pois eles me ressarciriam após a eleição. Como se
eu tivesse tal recurso. Não demorou e eu me vi dentro de algo que não tinha
nada a ver comigo. E a cirando do engano é sutil e perversa.
Só não me acabei porque Deus foi e é comigo.
Um dia, entretanto, com calma, narrarei a história toda, e seus muitos
desdobramentos à época — sempre um abismo chamando outro abismo.
Entretanto, sem ser detalhado, quero repetir
que a partir daquele momento, líderes do PT passaram a me pressionar para que
participasse do descobrimento e da divulgação do suposto Dossiê, por conta de
minha influência e credibilidade na sociedade civil.
Eram ligações, meia-noite, quase todos os
dias. Às vezes a Bené ligava chorando: “Meu reverendo, pelo amor de Deus salva
a gente. Sem essa história o Lulinha não vai ganhar. Nós jamais vamos
conseguir. Não deixa a gente nessa, pelo amor de Deus”.
Deus é minha testemunha; e as contas
telefônicas também — elas provam quem ligava pra quem.
A covardia foi tão grande que à medida que o
tempo foi passando, e ficou patente que a papelada era uma grande operação de
falsificação, eles foram transferindo tudo para as minhas costas. De repente, o
Dossiê Cayman era “uma coisa do Caio”.
Fui acusado de propor intermediar, por
dinheiro, o chamado Dossiê Cayman; uma papelada que comprovaria que FHC, José
Serra, Sérgio Motta e Mário Covas mantinham centenas de milhões de dólares em
um paraíso fiscal no Caribe. Investigações posteriores apontaram os documentos
como pura armação. Eu, enquanto isto, sempre dizia que nunca havia visto nada.
Mas adiantava? É claro que não!
Acabei processado por calúnia pelo então
presidente. Somente ano passado me vi livre de tudo — tendo sido inocentado
pelo depoimento de Eduardo Jorge (ex-secretário geral da presidência no governo
FHC), a quem eu mesmo havia procurado antes de tudo se tornar público, e
contado toda a história.
Somente três anos depois é que de fato soube
que tudo não passara de uma grande armação, conforme fui informado pela
entrevista dada por Oscar de Barros ao Jornal “O Globo”, na qual ele me
inocentou, chamando-me de “freira” em relação a tudo aquilo. De fato, as
maiores informações que tive me vieram da entrevista de Oscar de Barros e do
livro “Cayman: Dossiê do medo”. Do contrário, até hoje não saberia com exatidão
o que havia acontecido.
Quanto ao mais, era como ser acusado de
calúnia secreta e de saber o que não sabia!
Assim, o que tenho a dizer é que em 1998 fui
deixado com uma mão na frente outra atrás, nessa história do Dossiê Cayman, por
um PT que posou de ético — enquanto tentou me fazer passar por bandido
interessado em dinheiro. Tudo mentira. O pessoal do PT é que ficou atrás de
mim. Eles sabem. E tenho testemunhas. Além disso, quando vi o tamanho da
armação na qual me envolvera, passei a gravar tudo o que podia, e guardei tais
fitas por muito tempo.
O que mais doeu foi ver o Lula e a Bené
tirarem o corpo fora diante da mídia. Quase nem me conheciam mais. Isto sem
falar que quando a história minguou e não foi a lugar algum (antes da história
vir a público) — a Bené ainda me chamou numa sala que ela tinha no centro do
Rio e deu outro Dossiê. Dessa vez contra ACM, mas que envolveria FHC —
pedindo-me que ajudasse o Lula pelo amor de Deus; e sugerindo que dada a minha
amizade com o senhor Domingos Alzugaray, dono da IstoÉ, eu fizesse o material
chegar às mãos dele.
Hoje, quando li os jornais, sinceramente não
tive nem espanto e nem dúvidas acerca de nada. Por experiência própria eu sei
que eles podem proceder assim, tão somente tenham a chance.
Aliás, as questões propostas como defesa pelos
líderes do PT são a própria confirmação de minha tese: “De que tal dossiê nos
ajudaria se estamos na frente para Presidente?”
Ora, não estão em São Paulo para governador. E
mais: a pergunta-defesa embute o argumento que, em havendo necessidade, tal
expediente é algo a ser considerado.
Não guardo mágoas e não comemoro este momento
em que o PT passa de promotor de justiça a réu. Não celebro nenhum desses
escândalos. De fato, fiquei triste; mas já não mais com aquela tristeza dos
ingênuos. Não tenho surpresas porque o PT que eu fui conhecendo era capaz
disso.
Além disso, também não creio em castigo
exemplar dos envolvidos em corrupção. Sim, porque existe no inconsciente
coletivo brasileiro o seguinte: a impunidade pode até continuar desde que a
mídia cumpra o papel de chicoteamento público do indivíduo numa praça. Ou seja:
se a mídia pegar o cara, tirar a roupa dele com meticulosidade, descer-lhe o
azorrague por dias e dias sem fim, puser as vísceras dele pra fora e mostrar de
que material ele é feito, a população dá o juízo como realizado, a impunidade
continua, a mídia muda de pauta e a investigação pára. Na hora em que o
indivíduo se torna um fantasma, um ser irrecuperável, dá-se a justiça como
feita. Assim é o Brasil. E mais: Lula vai ganhar as eleições outra vez.
Concluindo digo o seguinte: Se o atual Dossiê
tem ou não a participação do PT, não me interessa — embora pareça estar mais
que provado. Sei apenas que em 1998 eles foram capazes de se interessar pelo
falso Dossiê Cayman; e sobre mim puseram muita pressão; e, por fim, jogaram
sobre meus ombros a responsabilidade. E também sei que não houve as chamadas
contenções éticas à época alegadas por eles. Eu, todavia, quero distancia de
tudo isto. Afinal, tudo o que sei é o que aqui digo; e que é o que sempre
disse, embora não me tenham crido.
Com oração, pena, e pedindo a Deus
misericórdia para o nosso país,
Caio
Escrito em 21 de setembro de 2006
Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 29 de novembro de 2011 às 19:15 e está arquivado em 1998,caio fábio,dossiê cayman,política. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
30 de novembro de 2011 às 09:21
30 de novembro de 2011 às 17:10
30 de novembro de 2011 às 17:12
PessoALL,
Shalom!
De dezembro de 1992 a dezembro de 1995, anos nos quais tive a honra e o privilégio de trabalhar o lado do Rev. Caio Fábio D'Araújo Filho, então presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEVB), da qual eu era Diretor Executivo Nacional, nunca jamais o vi mentir, nem testemunhei ou percebi sequer um único lance de inverdade dita mesmo nas conversas mais íntimas e informais, nem muito menos em instâncias públicas. E é e partir desta experiência pessoal que tive com o Rev. Caio Fábio na primeira metade dos anos 90 e, mais tarde, em dois outros encontros que tivemos, que baseio minha confiança de que o que ele tem dito ao longo dos anos, desde 1998, sobre o “Dossiê Cayman”, bem como a confiança que ele inspira no vídeo disponibilizado hoje no YouTube sobre o assunto, devem ser recebidos com sobriedade, tranquilidade e igual confiança.
Wesley
___________________________________________
Rev. Dr. Luís Wesley de Souza, Ph.D.
Arthur J. Moore Associate Professor of Evangelism
Emory University | Candler School of Theology
1531 Dickey Drive | Suite 344 | Atlanta | GA | 30322-1003
___________________________________________________________________________