O sol: dono da África, da pele, dos peixes, da feira!
10 de janeiro de 2010
Postado por Unknown
África Central, Sul da Nigéria.
Outono de 2010.
Não chove aqui. Nunca. Nem uma gota.
O Sol também não brilha. Onipresente, fica cinicamente disfarçado sob um manto cinza-amarelado que se debruça violento sobre tudo e todos.
Estamos numa estufa. Os sentidos fervem. O sol africano entorpece a razão e deixa a paisagem e os rostos parecidos com ele próprio: secos, rígidos, hostis e à flor da pele.
A região é petrolífera, o ar cheira querosene e no horizonte as refinarias cospem o fogo que jamais se apaga. Mas a vegetação é teimosamente vigorosa! Cresce sem restrição! Para cima, para qualquer lado... Para todos os lados! A mata se joga sobre as ruas. Não há calçadas, somente um tapete esburacado de asfalto estreito, sobre o qual desfila uma infinidade de motos, carros e gente. Tantas motos quantas nem São Paulo nunca viu! Tanta gente sobre as motos como nunca se pensou no Brasil: são sempre de 3 a 6 pessoas; e todos seguem numa caravana completamente destituída de sinais de trânsito, faixas de pedestres, capacetes, limites de velocidade, vias preferenciais e qualquer outra coisa que seja minimamente orientadora. O caos se auto-organiza. A bagunça é harmoniosamente regulada pelas buzinas que tocam o tempo todo. Ganha quem buzina mais, melhor, antes, sei lá... Há uma orquestra de buzinas sem maestro algum comandando a rural-urbanidade do lugar.
As casas comerciais são baixas, pequenas, escuras e tem suas placas comidas pela ferrugem. Mas nada é mais peculiar do que as feiras livres.
***
Meio-dia. A sauna seca foi ligada lá fora!
Dentro do carro, estou suando mais que em toda a vida, transpiro sal. O ar entra quente pelas narinas e mal posso abrir os olhos. Evito me mexer... Vejo tudo ao redor:
O carro não anda. Não tem espaço para circular. Estamos enfiados no meio da feira e as barracas invadem a rua, enfiadas entre os carros. O povo também invade a rua, carregando sobre a cabeça os sacos, as lenhas, o mundo! Não há miséria. Ninguém passa desnutrido.
E só há negros mesmo; não vi um branco ainda... Nem um único. Não há muitos idosos tampouco. Morrem antes. A vida é dura!
Enquanto todos olham para mim, “alvo mais que a neve”... Eu olho para tudo. As coisas aparecem diante de mim como flashs, quadros, retratos amarelos, pinturas envelhecidas encardidas de tempo e sol...
Tem um porco inteiro sobre a bancada. O rasgo fundo no pescoço é a única marca que o distingue do animal vivo. Daqui a pouco ele estará deformado a gosto do cliente, fatia por fatia. No chão, blocos de carne vermelha vão sendo defumados. O sol dá conta de tudo. As moscas dão conta da carne. Moscas. Tantas moscas como motos.
Mas a melhor exposição é a dos peixes. Mal podemos identificá-los. Não tem peixe fresco... Estão todos carbonizados, parecem de plástico enegrecido, torraram completamente, viraram esculturas mumificadas com olhos de vidro.
No demais, há muitas especiarias de sarcófago e gritos de briga. Ninguém leva desaforo pra casa. Ninguém guarda desaforo no coração. Tudo segue... Todos falam alto e ao mesmo tempo. O tempo que nem parece o mesmo, aliás... Pareço estar fazendo uma viagem ao passado. Lembro dos filmes de época que retratam os mercados a céu aberto nas cidades européias da Idade Média. Um frenético “zanzar” para se buscar o pão de cada dia, o arroz e os grãos todos, que aqui se comem com as mãos.
Até onde percebi, não há sanitarismo algum aqui no estado de Akwa Ibom. Não existe rede de esgoto, só existem fossas. E nem um único cesto de lixo. E o lixo... O lixo vai sendo socado contra a areia do chão à medida que se caminha sobre ele. Não demora a virar uma coisa só... Pisado! O chão e o lixo. O solo e seu adubo. Areia e plástico.
O carro segue. Sinto o vento quente entrar pela janela. O sol pousa no carro e abre as asas sobre nós. Fecho os olhos, escondido... (Confesso que a gente nunca se entendeu muito bem! Mas dessa vez, é óbvio que ele está me perseguindo! Só pode!)
Vou fingindo que não é comigo! Logo mais, fim da tarde, o sol – ele mesmo – também vai se cansar da própria fúria e exibir-se, lindo, como uma imensa bola laranja se escondendo no horizonte! Logo mais virá a noite de candeeiros, sem luz elétrica nas ruas.
Minha pequena caravana também segue adiante.
Procurando o futuro.
Marcelo Quintela (Way to the Nation)
Um dia desses/Janeiro de 2010
EKET, no Delta do Rio Niger
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Este artigo foi postado por Blog do Caminho em 10 de janeiro de 2010 às 11:17 e está arquivado em dossiê nigéria,nigéria. Siga quaisquer respostas a este artigo através do RSS 2.0 feed. Você pode também deixar seu comentário aqui.
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17 de janeiro de 2010 às 11:28
VCS SÃO HOMENS DE DEUS!!!
SAIR DO CONFORTO DE SUAS CASAS E IR PARA OS CONFINS DA TERRA PREGAR A VERDADEIRA PALAVRA DE DEUS...
LIBERTAÇÃO! LIBERTAÇÃO! LIBERTAÇÃO!
QUE DEUS CONTINUE OS ABENÇOANDO.